É inadmissível que candidatos não tenham conseguido fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por falta de lugar nas salas para as quais foram designados. A cena se repetiu em Porto Alegre. Depois de meses de estresse, de indefinições e de preparação, jovens que lutam por uma vaga nas universidades tiveram de voltar para casa sem fazer a redação e sem responder às questões do primeiro dia do exame, que continua no próximo domingo.
Mais uma vez, faltou planejamento. Se por um lado é louvável o esforço para realizar o Enem obedecendo às regras de distanciamento e de higiene, como se observou na maioria das instalações, por outro é injusto que a falta de organização prejudique quem nada tem a ver com isso.
A frustração de uma expectativa e de um planejamento que engloba recursos financeiros e emocionais gera desequilíbrio em uma disputa já marcada pelas enormes diferenças nas oportunidades de preparação dos candidatos
Em alguns locais, conforme relata reportagem de Zero Hora, houve correria para garantir lugar, consagrando uma espécie de “lei do mais forte”, em vez da obediência aos critérios estabelecidos pelos próprios organizadores das provas. Os prejuízos aos estudantes começaram com o adiamento, que acabou acentuando ainda mais o desnível entre os egressos dos ensinos privado e público, esses últimos muitas vezes sem acesso sequer à internet, o que compromete em muito a capacidade de estudo.
Entende-se que, em tempos de pandemia, problemas aconteçam. É preciso ter paciência e capacidade de adaptação diante de uma circunstância dessa magnitude. Mas esse tipo de contratempo, totalmente evitável, não encontra justificativa aceitável. Há um enorme dano a quem ficou de fora, mesmo com a promessa de que as provas poderão ser realizadas em fevereiro, juntamente com os candidatos que se recuperam da covid-19. A frustração de uma expectativa e de um planejamento que engloba recursos financeiros e emocionais gera desequilíbrio em uma disputa já marcada pelas enormes diferenças nas oportunidades de preparação dos candidatos.
Outro fator preocupante vem da constatação, também publicada em Zero Hora, de que, em alguns dos locais onde faltou espaço, não houve sequer o registro adequado dos nomes e das presenças de quem ficou de fora, ocasionando ainda mais angústia aos jovens e às suas famílias. Sem falar na possibilidade de que os excluídos do fim de semana já tenham outros compromissos agendados na nova data proposta pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do governo federal responsável pelo Enem. Novamente, os brasileiros pagarão uma conta que não é deles, enquanto Brasília minimiza mais um dos seus desacertos.