O que já era uma expectativa ganhou contornos definitivos: a criminalidade foi atacada e reduzida no Rio Grande do Sul em 2020. Os dados oficiais do governo estadual, anunciados nesta quinta-feira, indicam que o número de homicídios no ano passado foi o menor desde 2007.
Ainda falta muito, porém, para que os gaúchos possam, de fato, usufruir de uma sensação consistente de segurança. Os 1.694 assassinatos em 12 meses são incompatíveis com uma sociedade que aspira a condição mínima de civilidade. Esse montante, ao mesmo tempo vergonhoso e desafiador, não deve impedir o reconhecimento dos acertos que vêm se sucedendo desde o governo de José Ivo Sartori e que ganharam continuidade e incremento na gestão de Eduardo Leite. Investimentos em inteligência e tecnologia, parcerias com a iniciativa privada através de incentivos fiscais para compra de equipamentos e aposta na integração das forças de combate ao crime organizado são algumas das iniciativas que merecem destaque. Os reflexos positivos foram sentidos em várias frentes, do roubo de carros aos feminicídios, que também tiveram menor incidência no Rio Grande do Sul.
Ainda falta muito, porém, para que os gaúchos possam, de fato, usufruir de uma sensação consistente de segurança
As políticas implementadas pela cúpula da segurança em nada resultariam sem o esforço e a dedicação de milhares de profissionais que atuam na linha de frente, merecedores de aplauso e de reconhecimento pelo trabalho realizado, mesmo com os riscos multiplicados durante a pandemia.
Olhando o sistema como um todo, uma área insiste em se apresentar, no curto prazo, como obstáculo à evolução da qualidade de vida dos gaúchos, quando o assunto é o combate ao crime. O poder paralelo instalado nos presídios ainda inflige medo e dor à população, seja pelo domínio territorial exercido pelas facções em regiões das grandes cidades, seja pelas ações comandadas por alguns de seus líderes de dentro das cadeias.
Sem atacar de fato essa chaga, toda e qualquer vitória contra o crime será parcial e provisória. A melhora da qualidade do sistema prisional gaúcho levaria à ampliação do alcance da pena, dando a ela a necessária dimensão de recuperação dos criminosos e não apenas sua imprescindível punição. Essa ferida vem sobrevivendo a sucessivos governos, com esporádicos avanços, mas sem a consistência necessária das ações.
Em uma perspectiva maior de tempo, não existe enfrentamento sustentável contra a criminalidade que prescinda de investimentos em educação, ferramenta fundamental na construção de oportunidades para as populações abandonadas pelo Estado e, também por isso, mais suscetíveis às falsas promessas do tráfico e dos outros tipos de delinquência.
De qualquer forma, o que se vê nas forças de segurança do Rio Grande do Sul passa longe da acomodação. O sucesso de iniciativas de contenção à bandidagem precisa ser celebrado, mas, ao mesmo tempo, servir de estímulo para que avancemos ainda mais na tarefa coletiva de garantir tranquilidade para que os gaúchos possam viver sem medo de deixar suas janelas abertas e de sair às ruas, o que significaria, em suma, mais desenvolvimento humano e econômico.