O desempenho das 15 maiores companhias gaúchas de capital aberto no terceiro trimestre comprova que, no geral, os efeitos mais nefastos da pandemia na atividade e na demanda ficaram para trás. A maior parte das empresas analisadas em reportagem publicada ontem em Zero Hora elevou receita e lucro tanto na comparação com o mesmo período do ano passado quanto no cotejo com o intervalo de abril a junho, o recorte temporal mais afetado pelas medidas restritivas impostas para deter a disseminação da covid-19. Seria natural apresentar resultados mais robustos do que os do segundo trimestre de 2020, o fundo do poço, mas o faturamento 9% acima do terceiro trimestre de 2019 indica, mais do que uma gestão acertada para se adequar ao cenário cercado de incertezas, uma recuperação substancial de alguns dos principais setores da economia.
O fato de o pior ter ficado no retrovisor não significa um caminho sem curvas e obstáculos à frente
Essa regeneração, cumpre ressaltar, é desigual e ocorre em ritmos diferentes. Setores ligados a alimentos, commodities, transporte de mercadorias, medicamentos e vinculados à construção civil e com grande peso nas exportações se saíram melhor. Outros, mais relacionados à moda ou transporte de pessoas ainda não conseguiram recuperar o terreno perdido. Mas, de qualquer forma, tendem a voltar a mostrar força e manter a tendência de crescimento de longo prazo consistente, conforme a economia for voltado aos eixos.
O horizonte menos nebuloso vai aparecer após o início da vacinação contra o novo coronavírus no país, o que devolverá mais confiança a consumidores e empresários de todos os portes. Grandes grupos têm maior capacidade de absorver os impactos de adversidades como as atuais. Não é o caso da imensa maioria de médias e pequenas empresas que formam o tecido econômico do Estado e precisam de estabilidade e previsibilidade mínima para manterem sua trajetória empreendedora e suplantar uma crise sem precedentes em um século e que, para tornar ainda maior o desafio, veio após um período de recessão e baixíssimo crescimento.
O fato de o pior ter ficado no retrovisor não significa um caminho sem curvas e obstáculos à frente. A própria situação da pandemia no país ainda preocupa. O fim do auxílio emergencial terá impacto no consumo. E mesmo setores industriais voltados a bens de capital, apesar de se beneficiarem da demanda reprimida, ainda enfrentam certa dúvida quanto às cadeias de suprimentos, também abaladas pelas paralisações provocadas pela pandemia.
A maioria das principais empresas gaúchas de capital aberto tem grande parte de suas receitas originadas fora do Rio Grande do Sul – seja no Exterior ou no mercado brasileiro. Além da atenção às circunstâncias que mexem com a economia global, também são fatores que merecem atenção o andamento das reformas no país, como a tributária e a administrativa. São essenciais para melhorar o ambiente de negócios e modernizar a máquina pública. Da mesma forma, medidas, reformas e privatizações que contribuam para um melhor quadro financeiro do Estado devem ser perseguidas à exaustão, permitindo ao atual e aos próximos gestores instalados no Piratini melhores condições de financiar serviços essenciais como saúde, educação e segurança, pagar salários em dia e ainda obter algum espaço para investimento. Assim, espera-se que as partes envolvidas nas negociações sobre o pacote tributário do Estado, prestes a ser votado, cheguem a um bom termo. É preciso buscar um consenso que concilie os interesses públicos sem sufocar o setor produtivo, que, se tiver condições mais adequadas de crescer, também fará a arrecadação subir.
A busca por fazer do Rio Grande do Sul um lugar melhor para viver e empreender vai pavimentar a via para que empresas de todos os tamanhos encontrem um ambiente propício para se estabelecer, se expandir, criar empregos e renda e fortalecer ainda mais a economia gaúcha.