O turismo é uma das mais importantes atividades econômicas no mundo, mas para que se desenvolva é preciso assegurar aos visitantes uma experiência positiva. Não é segredo ou novidade que o poder público no Brasil, em todos os níveis, tem prioridades mais urgentes nas quais aplicar os seus parcos recursos, o que reduz a possibilidade de realizar os investimentos necessários para criar uma boa infraestrutura nos ativos que administra. É o caso dos parques nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral, em Cambará do Sul, com seus cânions de tirar o fôlego, mas com recorrentes queixas de turistas pela ausência do básico em termos de serviços. O esplendor de um dos pontos mais belos do Rio Grande do Sul pode e deve ser melhor aproveitado, assegurando ganhos para todos os envolvidos no processo, principalmente para a natureza.
A ideia, conceitualmente bem-vinda, só fará sentido com a atenção máxima aos cuidados ambientais
É acertada nesse sentido, portanto, a concessão dos parques à iniciativa privada, oficializada ontem pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, com o lançamento dos editais que vão nortear a concorrência. Assim como em outras áreas, como logística e infraestrutura, o capital privado tem melhores condições de levar adiante os investimentos para oferecer aos viajantes banheiros em boas condições, acessos satisfatórios, bilheterias, estacionamento, sinalizações, guias, transporte interno, hospedagem e alimentação, dentro de rígidos limites impostos pela necessidade de preservação do meio ambiente.
A ideia, conceitualmente bem-vinda, no entanto, só fará sentido se for dada a máxima atenção aos detalhes do edital. Todas as regras precisam ser transparentes, com os direitos e atribuições de cada parte, mantendo o poder público como o fiscalizador do cumprimento dos compromissos. Mesmo que pareça um contrassenso – afinal, o grande atrativo do ecoturismo e do turismo de aventura é a própria natureza –, é fundamental ter garantias inquestionáveis de que a maior eficiência econômica do sistema não causará danos ambientais.
A concessão dos dois parques nacionais no Estado merece ainda mais zelo e uma atenção especial neste momento devido à dimensão dos questionamentos que cercam a pasta do Meio Ambiente e o ministro Salles, especialmente em relação à inércia e a omissões frente a queimadas e desmatamentos no Pantanal e na Amazônia. Mesmo que as promessas de investimentos e incremento do turismo sejam positivas, gerando tributos, trabalho e renda na região, é preciso vigilância extrema para que eventuais normas genéricas não abram fendas que transformem uma grande expectativa em frustração.
O reaquecimento da demanda pode ainda se traduzir em mais contratações, aliviando o drama do desemprego no país. Até por essa razão, espera-se que o Congresso analise logo e derrube o veto do presidente Jair Bolsonaro à prorrogação da desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia, dando mais segurança para empregadores abrirem vagas. Espera-se, da mesma forma, que avancem outras agendas importantes para melhorar a competitividade da economia brasileira, como a reforma tributária. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse no fim de semana esperar um acordo com o governo para fechar a proposta de simplificação do intrincado sistema de tributos do país ainda neste ano. O momento é de destravar pautas que possam levar o Brasil a uma recuperação mais rápida e robusta.