No dia em que foi anunciada a péssima – mas esperada – notícia da queda recorde do PIB brasileiro, de 9,7% no segundo trimestre frente aos três meses imediatamente anteriores, o governo confirmou a extensão do auxílio emergencial por mais quatro meses e, finalmente, o envio da proposta de reforma administrativa para o Congresso. O tombo de proporções inéditas na economia nacional entre abril e junho, período de maior restrição às atividades por conta da pandemia, também arrastou a arrecadação de impostos para o fundo do poço, o que torna extraordinário o esforço para a manutenção da ajuda aos mais necessitados, mesmo com um valor de R$ 300, metade do original.
É fundamental a manutenção do teto de gastos, como forma de preservar a confiança, juros baixos e inflação controlada
A manutenção do auxílio a trabalhadores informais, microempreendedores, autônomos e desempregados faz com que o governo tenha de redobrar, em outras frentes, o compromisso com a responsabilidade fiscal e o rigor com o trato das contas públicas, sem embarcar em aventuras que ampliem gastos indevidos e inoportunos. É fundamental a manutenção do teto de gastos, como forma de preservar a confiança dos agentes da economia, assegurando a continuidade de juros baixos e da inflação controlada.
De forma oportunista, o que faz parte do jogo, o governo Bolsonaro aproveitou o dia em que os brasileiros tomariam conhecimento da retração histórica do PIB e da oficialização da entrada do país em uma nova recessão técnica para fazer dois anúncios de impacto. Além do auxílio emergencial, o Planalto se comprometeu em mandar ao parlamento, com quase um ano de atraso, um projeto de revisão da política de recursos humanos, que, apesar de modesto e só valer para futuros servidores, deve perseguir maior racionalidade dos gastos com pessoal e melhor produtividade da máquina pública. A estratégia refletiu-se na forte queda do dólar e na alta do Índice Ibovespa, indicando a esperança dos investidores em dias melhores. O pior momento da economia real, apontam os indicadores mais recentes, vai ficando para trás e agora a tendência é de recuperação da atividade, só não se sabe a qual ritmo. O fim da indecisão quanto à reforma administrativa, entretanto, é um fator que deve influenciar as expectativas de forma positiva e mostra um novo fortalecimento das opiniões do ministro Paulo Guedes nas tomadas de decisões importantes do Executivo. Lamenta-se que tenha faltado ousadia à proposta, além de disposição para enfrentar as corporações que capturam grande parte dos impostos recolhidos da sociedade, recursos melhor empregados se destinados a áreas como saúde, educação e segurança.
Em meio à queda generalizada da indústria, serviços, investimentos e consumo das famílias no PIB do segundo trimestre, salvou-se outra vez a agropecuária, também decisiva para a alta das exportações. O Rio Grande do Sul, como um dos expoentes nacionais do agronegócio, tem mais razões para certo otimismo do que a maioria dos Estados, embora também ainda vislumbre uma dolorosa jornada à frente para começar a resolver a sua precária situação fiscal.