Muito pior do que um governo sem obras iniciadas é uma gestão que simplesmente relega as em andamento ao abandono e à inevitável deterioração. Projetos iniciados mas em seguida paralisados são, além de um transtorno e uma frustração para as populações, monumentos ao desperdício do escasso dinheiro público. Não é segredo ou novidade que, nos últimos anos, o país se transformou em um cemitério de obras anunciadas com pompa, que aos poucos foram sendo deixadas de lado, decompostas pela ação do tempo, pela falta de recursos e planejamento deficiente.
O governo de Jair Bolsonaro está certo em concentrar recursos escassos no término do que já está em andamento
Por isso, apesar do caráter nitidamente eleitoral das inaugurações programadas, acerta o presidente Jair Bolsonaro ao anunciar que o governo federal vai concentrar os minguados recursos existentes na finalização de obras iniciadas por seus antecessores. Nem poderia ser diferente. Afinal, a construção da infraestrutura com investimento público deveria sempre ser vista como uma política de Estado, e não algo que pertence ou pode render dividendos nas urnas para qualquer grupo político específico.
No Brasil, infelizmente, é prática corriqueira governos anunciarem projetos portentosos e grandes obras que são abandonadas ou demoram um tempo muito acima do cronograma original para serem entregues. A população pretensamente beneficiada imagina que o governo de plantão está realizando um grande empreendimento e devolvendo seus tributos na forma de benefícios ansiados pela coletividade, quando muitas vezes está somente levantando uma cortina de fumaça para criar a ilusão de ser uma gestão realizadora. Mesmo quando são, no fim, entregues, construções paralisadas e depois reiniciadas também significam custos muito acima dos inicialmente calculados.
A melhor obra é aquela inaugurada e é neste momento que os governos devem ser saudados, e não quando fazem anúncios impactantes, em geral com nomes pomposos e com promessas e estimativas de término que quase invariavelmente são esquecidas ou ficam para as calendas. O Brasil parece padecer de um problema atávico para tocar e concluir obras. O que outros países fazem em poucos anos, aqui leva décadas. Então, antes de se lançar a novos empreendimentos, até pelo respeito aos contribuintes, é dever dos governos terminar o que foi iniciado – no caso do Rio Grande do Sul, a duplicação da BR-116
e a nova ponte sobre o Guaíba são exemplos. Mas, olhando para o futuro, a prioridade deve ser deixar para as parcerias público-privadas (PPPs), com os ônus e os bônus, a responsabilidade de levar adiante os novos grandes projetos. Nesse caso, o grande papel do Estado deve ser o de proporcionar segurança jurídica.