A envergadura da megaoperação desencadeada pela Polícia Federal (PF) no início da semana contra a principal facção criminosa do país tem o mérito de dar um golpe certeiro para enfraquecê-la, ao mesmo tempo que escancarou a alarmante dimensão do grupo, nascido na década de 1990 em São Paulo e hoje com tentáculos espalhados por todo o país. Cerca de 1,1 mil agentes foram empregados na ação que buscou cumprir mais de 600 ordens judiciais de prisão e busca e apreensão em 19 Estados e no Distrito Federal e, principalmente, bloqueou R$ 252 milhões das lideranças da organização, oriundos especialmente do tráfico de drogas e da lavagem de dinheiro.
Cortar o fluxo de dinheiro para membros do alto escalão de grupos criminosos é o modo mais eficaz de combater organizações do gênero
Dar um freio ao crime organizado, interrompendo a ascensão das facções e a sensação de que operam com certa normalidade mesmo com seus líderes presos, é uma exigência da sociedade que a PF, com a segunda fase da Operação Caixa Forte, continuou a colocar em prática com uma resposta à altura. O caminho escolhido, de seguir a trilha do dinheiro e bloqueá-lo, é cirúrgico e, pelos montantes apreendidos, é possível ter noção das vultosas quantias movimentadas pela organização e pagas como uma espécie de remuneração às lideranças pelos postos que ocupam na hierarquia ou por serviços prestados, muitas vezes o assassinato de policiais e autoridades.
Cortar o fluxo de dinheiro sujo para membros do alto escalão de grupos criminosos, impedindo que amealhem ganhos financeiros por suas atrocidades e delitos, é o modo mais eficaz de combater organizações do gênero. O mesmo vale para a apreensão de bens de toda ordem. Sabe-se que prender líderes ou membros subalternos tem eficiência limitada. Chefes ou peões detidos ou mortos são rapidamente substituídos, sem que se consiga estancar a atividade criminosa. O estrangulamento econômico, ao contrário, torna-se a estratégia mais efetiva para combater essas complexas quadrilhas por cortar o oxigênio que as move e as mantêm atuantes e ousadas.
A ação policial contra faces conhecidas desse submundo, como fez a PF, é sempre bem-vinda, mas não basta. O crime organizado também encontra meios para se infiltrar em braços do poder público e encontra terreno fértil para se desenvolver nas estranhas da sociedade porque, voluntariamente ou não, cidadãos acabam alimentando a cadeia delituosa ao comprar e usar drogas e adquirir objetos e bens furtados ou roubados. Assim como o emprego da inteligência e da repressão pelas instâncias competentes, a conscientização individual é de grande importância para dar um fim a esta chaga que ameaça famílias e instituições no Brasil.