Mesmo em meio à profusão de informações e dados preocupantes relacionados à pandemia do novo coronavírus, é possível encontrar notícias que trazem algum alento por mostrarem vitórias contra a covid-19. Reportagem publicada na edição da última quinta-feira de Zero Hora, sobre o bom índice de recuperação dos pacientes em estado grave internados em Porto Alegre, é uma delas. Constata-se que, na Capital, cerca de 70% dos hospitalizados suplantam a enfermidade, uma taxa superior à verificada na média nacional.
Os resultados auspiciosos alcançados pelos hospitais da Capital não devem ser interpretados como margem para que os cidadãos relaxem na precaução
Uma constatação extremamente positiva é a de que é pequena a diferença do percentual de recuperações entre a rede privada e a pública. Em Porto Alegre, enquanto na primeira o índice alcança 73,4%, nas instituições vinculadas ao SUS chega a 67,4%, apenas seis pontos percentuais abaixo. Para efeitos de comparação, um levantamento realizado no final do mês passado pelo jornal Folha de S.Paulo apontou que, na média de todo o país, o percentual era de apenas 51% em unidades particulares. Na rede pública, caía para 34%.
O desempenho semelhante entre os sistemas na Capital demonstra, principalmente, a qualidade do serviço público de saúde do Rio Grande do Sul, especialmente nos complexos considerados de referência para o coronavírus na cidade, como o Hospital de Clínicas e o Grupo Hospitalar Conceição. Além de abertura de leitos, esses indicadores que destoam positivamente do verificado no restante do país também provavelmente não seriam obtidos sem o preparo e a dedicação incansável de seus profissionais, que, no dia a dia, encaram a extenuante tarefa de salvar vidas diante da desafiadora e ainda pouco conhecida doença.
Os resultados auspiciosos alcançados pelos hospitais da Capital, entretanto, não devem ser interpretados como margem para que os cidadãos relaxem na precaução e nos comportamentos preconizados como as melhores defesas contra a transmissão do vírus, como o distanciamento social, hábitos de higiene e o uso de máscaras. Zelar por esse sistema, para que continue prestando bons serviços à sociedade, é uma responsabilidade permanente de todos. Manter a disciplina, cuidar de si e dos demais é essencial para que o ritmo de contaminações não avance de forma ainda mais preocupante, tanto na Capital quanto nas demais cidades do Estado, elevando os riscos de pressão no sistema de saúde.
Afinal, enquanto há mais relaxamento nas medidas restritivas voltadas a diminuir a circulação de pessoas, as internações por coronavírus nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) seguem crescendo na Capital, levando a rede de atendimento a uma ocupação de quase 90%, próxima do limite. E, mesmo que existam números que podem ser de certa forma celebrados, as mesmas estatísticas mostram que mais da metade das pessoas que precisam ser levadas a UTIs na cidade acaba perdendo a batalha para o vírus.