O calendário proposto pelo governo do Estado para a volta às aulas presenciais no Rio Grande do Sul a partir do dia 31 de agosto deve ser compreendido apenas como uma sugestão e não como o anúncio de algo certo. O próprio Piratini pondera que essa possibilidade dependerá da observação de critérios técnicos, o que significa um arrefecimento da crise do coronavírus, da concordância de especialistas e, claro, da posição dos prefeitos, com suas distintas realidades locais.
O retorno dos alunos às escolas é desejável, mas só será possível e recomendável, caso os números mostrem que a pandemia está sob controle e em franco recuo
O retorno dos alunos às escolas é desejável, mas só será possível e recomendável caso os números mostrem que a pandemia está sob controle e em franco recuo, como foi observado em alguns países da Ásia, da Europa e, no Brasil, foi o caso de Manaus, uma das grandes cidades que mais cedo sofreram com a disseminação do vírus no país. No caso da capital do Amazonas, com a volta gradativa às classes no ensino público a partir do início da semana passada, a queda dos números da covid-19 era observada desde junho, um momento bem diferente do verificado em Porto Alegre e na maioria das cidades gaúchas. No Estado de São Paulo, que também vive um estágio mais avançado na situação da curva de infecções, o governo optou pela precaução e adiou o retorno das escolas públicas e privadas para outubro.
A responsabilidade e a prudência, como sempre, devem preponderar. Não há por que existir pressa, e, neste momento, a possibilidade de voltar às aulas no final do mês, começando com a educação infantil, encontra a resistência de prefeitos, professores e pais. O receio tem razão de existir pelas dificuldades para evitar contatos que poderiam transmitir o patógeno entre crianças e jovens, com o risco de levarem o vírus para as suas casas. Existe ainda a incerteza do reflexo no número de casos de covid-19 pela liberação de uma série de atividades econômicas no Estado nos últimos dias, um cenário que poderá ser mais bem avaliado apenas nas próximas semanas.
Há ainda, no ambiente escolar, inúmeras questões que precisam ser resolvidas, como o distanciamento dentro das salas, os recreios, escalonamento de turmas, entradas e saídas e o transporte escolar. É inequívoco que os estudantes, de todas as idades, já tiveram ao longo deste 2020 um inestimável prejuízo no aprendizado. O drama é ainda maior para os alunos das classes mais baixas, muitas vezes sem acesso à internet para as aulas ou equipamentos adequados. O ano letivo cheio de percalços, com a adaptação às pressas de professores e alunos às aulas a distância, leva a uma natural dificuldade na absorção do conteúdo. É algo que inevitavelmente precisará ser recuperado durante 2021, quando, se tudo der certo, a existência de uma vacina de eficiência comprovada e segura permitirá finalmente o retorno à normalidade.
Nenhum país, Estado ou cidade experimentou algo parecido, a não ser em épocas de guerra e longos períodos de calamidade. Escolas, professores, pais e estudantes terão à frente o imenso desafio de unir esforços para contornar esta dificuldade e mitigar ao máximo os inevitáveis prejuízos à educação para que os danos deste inimaginável 2020 não comprometam o desenvolvimento da próxima geração e se evite um alargamento do abismo da desigualdade social.