Em todo o mundo, o turismo – e a indústria cultural, de hospedagem, transporte e alimentação em torno dele – é um dos segmentos mais sacrificados pela pandemia, em um círculo vicioso dramático que praticamente paralisou essa atividade crucial da economia. Apenas no Brasil, o segmento respondeu no ano passado por quase 3 milhões de empregos e movimentou R$ 238,6 bilhões. Por isso, é um bom sinal, e indicador de adaptação aos novos tempos, a notícia de que o Ministério do Turismo concedeu o selo Turismo Responsável – Limpo e Seguro para 19.318 prestadores de serviços turísticos no país, dos quais 1.010 no Rio Grande do Sul. O selo avaliza os protocolos de estabelecimentos e agências de viagens sobre boas práticas de higienização e visa ampliar a segurança de turistas e viajantes.
Em relação ao turismo com origem no Exterior, o Brasil não está no topo do ranking dos países mais atingidos devido à relativamente baixa entrada de estrangeiros – a França, por exemplo, registra 14 vezes mais turistas externos do que nós. Ainda assim, cidades e regiões de alta atratividade externa, como Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Florianópolis e a Amazônia, se ressentem profundamente dos dólares dos visitantes, que, no total, deixaram por aqui cerca de US$ 6 bilhões no ano passado. Mais grave, porém, é a trava abrupta nas viagens internas, que, além de ceifar sonhos e planos, ameaça milhares de pequenos negócios por todo o país – de pousadas a bares – que sobrevivem do turismo brasileiro.
Encontrar o ponto ótimo entre a contenção da pandemia e a reativação gradual do turismo é o desafio de empreendedores e governos agora
Encontrar o ponto ótimo entre a contenção da pandemia e a reativação gradual do turismo é o desafio de empreendedores e governos agora. É compreensível que, depois de quase seis meses de recolhimento e restrições, turistas em potencial estejam ávidos em retomar os hábitos de viagem da fase pré-pandemia – e serem recebidos de braços abertos por estabelecimentos que necessitam fazer caixa com urgência. A retomada, no entanto, deve ser progressiva e repleta de salvaguardas, a começar por se repelirem as aglomerações. O erro de um estabelecimento pode comprometer a imagem de toda uma cidade e do setor. Por isso, a interdição de dois estabelecimentos em Gramado que descumpriram as restrições no fim de semana deve ser apoiada sob pena de se produzir uma temida reversão nas expectativas de retomada das viagens.
Além do selo de segurança, os órgãos oficiais de turismo podem fazer muito ainda pelo setor a partir de agora, como divulgar roteiros de curta duração em áreas de menor difusão da covid-19 e que foram especialmente atingidas pela suspensão de festas, feiras, congressos e demais eventos. Em outros países que começam a controlar a doença, há, por exemplo, campanhas de incentivo para que a população conheça melhor a própria cidade, hospedando-se em hotéis e experimentando serviços, gastronomia e atrações geralmente só desfrutadas por viajantes de fora. Com esse estímulo, e tarifas mais baixas, algumas metrópoles na Ásia têm registrado hotéis lotados nos fins de semana.
Assim como desabou no início da pandemia, o turismo interno tem potencial de se recuperar rapidamente, e até crescer, em relação aos níveis anteriores ao coronavírus tão logo a normalidade comece a retornar ao cotidiano. O câmbio em novo patamar nas alturas e as dificuldades para se cruzar fronteiras com passaporte brasileiro deverão canalizar no médio prazo grande parte dos planos de viagem ao Exterior para os roteiros internos. É uma provável e desejada bonança para a qual o setor precisa se equipar e se preparar desde já, durante a inevitável e involuntária entressafra de viajantes.