A valorização dos profissionais da saúde é um dos efeitos mais visíveis e positivos da pandemia. Eles foram os primeiros a receber a onda de choque gerada pelo novo coronavírus e, certamente, serão os últimos a deixar de absorver a tensão de um cenário invisível à maioria da população. Notícia veiculada pelo jornal Folha de S. Paulo revela que, a cada minuto, alguém que trabalha na linha de frente do combate à covid-19 é contaminado no Brasil, um dado alarmante e que nos chama a atenção, mais uma vez, para a necessidade legal e moral de oferecer as melhores condições de trabalho possíveis a quem se arrisca para cuidar dos outros. Enquanto fora dos hospitais a maior parcela da população enxerga apenas estatísticas, podendo até mesmo fazer de conta que elas inexistem, auxiliares, enfermeiros, médicos e todos os colaboradores de uma instituição de saúde, da portaria ao almoxarifado, deparam diariamente com dramas que têm rostos, nomes, sobrenomes, amigos e familiares. Some-se a esta lista os agentes comunitários e equipes de ambulâncias, que também se expõem a alto risco de contágio entre profissionais que cuidam da saúde da população.
Mesmo com todos os cuidados, números recentes divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que mais de 257 mil profissionais da saúde foram contaminados pelo novo coronavírus no Brasil
Eram mais comuns, no começo do ano, cenas de aplausos coletivos nas janelas e demonstrações de afeto e gratidão. Certamente, esses sentimentos ainda se fazem presentes na sociedade. São justos e necessários, mas não são suficientes para evitar o estresse, a sobrecarga de trabalho e os danos físicos e psicológicos desse enorme contingente que suporta o peso avassalador de uma doença sobre a qual, passado meio ano da sua chegada ao Brasil, ainda restam mais dúvidas do que certezas.
Garantir condições de trabalho dignas e seguras a esses profissionais é um dever do Estado e das instituições, mas também resultado de uma cobrança e de uma vigilância coletivas. É verdade que, de fevereiro até hoje, muita coisa melhorou. O índice de recuperação de pacientes infectados é crescente, resultado de uma curva de aprendizado que vai das regras de convívio social à evolução dos tratamentos, mesmo antes da chegada de uma vacina comprovadamente eficiente. Mas esse indicador positivo, que deve ser celebrado e sempre lembrado, não significa alívio na tensão das UTIs e das emergências espalhadas pelo país nem garante o declínio da curva que coloca o Brasil na vergonhosa parte superior dos rankings de óbitos.
Milhões de profissionais vêm acumulando, há meses, cansaço, tensão e sobrecarga de trabalho, aliados, muitas vezes, à necessidade de isolamento até mesmo do círculo familiar mais próximo, sempre motivado pelo instinto e pelo dever de proteção. Mesmo com todos os cuidados, números recentes divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que mais de 257 mil profissionais da saúde foram contaminados pelo novo coronavírus no Brasil. Destes, 226 morreram vitimados pela doença. Aos que se foram e aos que permanecem no campo de batalha, nunca é demais reiterar o mais profundo agradecimento pela coragem, dedicação e talento. A todos aqueles que nunca pararam para que tantos pudessem ficar em casa, especialmente os mais idosos e os que teriam maior risco se expostos ao vírus, a História, certamente, reservará justiça, gratidão e reconhecimento. Mas, enquanto isso, é um dever de todos, sempre e cada vez mais, cuidar de quem cuida.