Os primeiros sinais de uma possível estabilização no ritmo de internações e óbitos por coronavírus no Rio Grande do Sul representam um alívio fugaz na curva de expansão da doença, mas não permitem que os gaúchos baixem a guarda com cautelas decisivas para a contenção da doença. Como demonstra o traiçoeiro comportamento da covid-19 em outros
países e Estados, o relaxamento afoito diante de algumas poucas boas novas conduz invariavelmente à reversão dos esforços obtidos até aquele momento.
Em total de casos, o Rio Grande do Sul segue com uma das taxas proporcionais à população menos ruins do país – na tarde de terça-feira, eram 867 por 100 mil habitantes. Apenas Minas Gerais ostentava uma estatística melhor. Mas, quando a comparação é do número de novos casos nos últimos sete dias, outros nove Estados exibiam dados mais alvissareiros. No Rio Grande do Sul, nada menos do que 14% do total de casos até ontem havia sido registrado nos sete dias anteriores. O número de mortes, embora em estabilidade diária, também indica a necessidade de se manter em alta o alerta à população.
O objetivo é e continuará sendo impedir a instalação de um quadro de caos e pânico social com doses certeiras de prevenção
Graças a um sistema de saúde mais bem estruturado do que os da grande maioria dos outros Estados e a um engenhoso plano estadual de distanciamento controlado, o Rio Grande do Sul tem sido capaz de evitar um caos sanitário já visto em outras paragens e de mitigar ao menos parcialmente os trágicos efeitos da pandemia sobre a economia e a renda de sua população. Um indicador claro das consequências da desaceleração abrupta é a alta acentuada do desemprego, que, como mostrou reportagem de GaúchaZH, atinge com mais intensidade exatamente a faixa etária de maior risco frente ao coronavírus. Pelo levantamento, o número de desligamentos de profissionais acima de 65 anos, entre março e junho deste ano, foi 47,1% superior ao do mesmo período de 2019.
O desafio de combinar prevenção e manutenção de níveis mínimos de atividade econômica segue, portanto, mais presente e complexo do que nunca. O aprofundamento da crise nas empresas e o cansaço, quase esgotamento, com as rígidas regras sociais podem conduzir a movimentos bruscos destituídos de estratégia racional e bom senso, que só ampliariam e estenderiam os efeitos perversos da doença na economia. No quesito da responsabilidade pública, o Rio Grande do Sul tem se saído relativamente bem. Incúrias e negacionismos localizados, em geral motivados por interesses políticos e eleitorais, têm sido rapidamente contornados com a ação decisiva das autoridades e sob aplauso de parcelas significativas da sociedade.
Como vem demonstrando o plano de distanciamento gaúcho, devidamente atualizado para se adaptar à evolução e ao conhecimento adquirido sobre a doença, é possível se conjugar a necessidade imperiosa de impedir o descontrole da covid-19 com a ampliação gradual das atividades.
Desde o primeiro registro do vírus, se sabia que nenhum Estado brasileiro, por suas características políticas, econômicas, sociais e geográficas, seria capaz de bloquear ou banir a pandemia de suas fronteiras. O objetivo é e continuará sendo impedir a instalação de um quadro de caos e pânico social com doses certeiras de prevenção até que se encontre uma cura ou a vacina. Nenhum plano, porém, dará certo se não houver colaboração ativa da população.
A disciplina para se manter o distanciamento social, ainda que se volte gradualmente a atividades econômicas e de lazer, usar máscaras e lavar as mãos ou usar álcool em gel deve ser uma obrigação moral de cada gaúcho. Destoar dessas atitudes, mesmo com a doença em níveis estáveis ou em desejada regressão, só contribuirá para o prolongamento e o agravamento desnecessário da maior crise deste século.