Por Wrana Panizzi, professora titular e ex-reitora da UFRGS (1996/2004)
Normalmente costumamos ter em mente que tempos difíceis exigem soluções complexas. Depois de 44 anos na universidade, trago comigo a experiência como professora e como reitora. Com base nesta vida dedicada à UFRGS, concluo que tempos difíceis exigem soluções simples.
A autonomia universitária foi uma conquista iniciada há mais de um século na Universidade de Córdoba e, em nosso país, se consolidou na Constituição Cidadã. Concepção que passa pela visão de produção do conhecimento e da ciência, que tem como base a autonomia da instituição, garantindo que esta chegue a toda a sociedade. Concepção que também está a serviço de um projeto de país.
Infelizmente, o que vemos hoje é uma ausência de projetos. Respondemos a políticas ditadas por organismos financeiros e corporações internacionais. Estamos no limiar de uma era. A universidade tem que cumprir o papel de provocar a juventude a pensar o futuro — em que a sociedade humana viva em harmonia com a natureza —, embora a autonomia não se resuma a uma nomeação. Não temos visto na UFRGS uma atitude altiva, cotidiana em defesa dessa condição garantida constitucionalmente e — infelizmente — tão desrespeitada por governantes e dirigentes. Temos que defender a autonomia universitária!
Preocupa-nos o quanto a universidade tem sido criticada por grupos que negam a importância da ciência para o progresso da sociedade, a preservação do meio ambiente e a garantia de uma vida de qualidade para todos. E mais em um país tão carente de trabalho qualificado e de investimento em ciência, pilares da nossa independência e soberania.
O ano de 2020 será marcado pela consciência de que não podemos mais viver em um mundo que só aumenta a concentração de riqueza e a miséria; e os recados da natureza precisam ser ouvidos. Tenho confiança em nossos povos, na ciência e na humanidade.
A universidade tem que mudar, mas não rompendo com seus princípios básicos — autonomia e a democracia —, pois os indivíduos passam, os princípios e a instituição permanecem. A defesa da autonomia e da democracia — ainda que frágeis — é coletiva. São condições para uma universidade pública, gratuita e de qualidade.
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