Por Geraldo Pereira Jotz, Médico e professor titular da UFRGS
Na final da Libertadores de 2006, o jogador Tinga, do Internacional, na euforia máxima do gol, tirou a camisa para comemorar, recebendo por isso o segundo cartão amarelo e sendo expulso. No dia seguinte, debatia-se o absurdo de se punir um jogador por tirar a camisa ao comemorar um gol. Muitas eram as teses, até que um comentarista deu fim à discussão, constrangido por ter de dizer o óbvio: "Gente, está na regra...".
O respeito às regras e convenções é a condição mínima para o funcionamento de qualquer sistema de relações humanas — do futebol às decisões políticas de uma nação.
E a escolha da nova reitoria da UFRGS se inclui nisso.
Dentro de uma legalidade previamente estabelecida, três nomes foram apresentados pelo Conselho Universitário da UFRGS à escolha do presidente da República — todos igualmente aptos e com as competências necessárias ao exercício do cargo, cada um com seus projetos e suas visões.
Contudo, inexplicavelmente, levantou-se uma pressão para que o presidente não escolha o nome do respeitado professor Carlos André Bulhões Mendes, com décadas de serviço à universidade e um consistente projeto de gestão. Não faz bem à saúde institucional que se mudem as regras em meio ao processo, simplesmente porque elas talvez não sejam favoráveis a este ou àquele.
O regramento é claro: a comunidade acadêmica vota entre postulantes; depois, o Conselho Universitário legitima uma lista tríplice; por fim, o presidente escolhe um dos três nomes da lista. Todos os candidatos estavam cientes disso e concordaram com a legitimidade da escolha presidencial. O processo deve ser encerrado de modo legal, liso e transparente, dentro das regras e convenções admitidas por todos.
Ou respeitamos os combinados prévios, ou a democracia e seus dispositivos viram joguetes na mão de quem grita mais alto. Ora, qual seria o inesperado e ilegítimo novo critério? Mais votos absolutos? Mais votos proporcionais? Ou será o presidente obrigado a escolher A ou B por pressões externas? Essa discussão não tem lugar neste momento. Agora é hora de respeitar nossa universidade e suas regras.