É preciso evitar, urgentemente, que a radicalização política desvie a maior universidade gaúcha da sua principal finalidade, que é a de gerar, debater e compartilhar conhecimento. A escolha do reitor da UFRGS se transformou em foco de tensão que consome energias internas e ganha uma dimensão ideológico-partidária exagerada.
Muitos são os aspectos a contribuir para o acirramento de ânimos. De parte do governo federal, há o entendimento de que as universidades públicas brasileiras se transformaram em território controlado pela esquerda e, por isso, hostil. A partir dessa visão, levantam-se vozes na defesa da escolha de um nome mais alinhado com o ideário bolsonarista.
A questão é que esse nome ficou em terceiro lugar na eleição interna que definiu a lista tríplice enviada a Brasília e da qual Bolsonaro, amparado pela lei, deve escolher o futuro reitor. Essa mesma eleição já foi centro de uma polêmica, porque nela os votos dos professores tiveram 70% de peso, deixando alunos e servidores em papel secundário.
Dentro da UFRGS, as opiniões se dividem. De um lado, estão os que defendem uma visão mais autônoma e a indicação do mais votado, o atual reitor, Rui Vicente Oppermann, que rejeita com veemência a tentativa de qualificá-lo, enquanto gestor, como representante de um pensamento político único.
Do outro lado, estão os que apoiam a aplicação fria do direito à escolha de qualquer um dos nomes habilitados, dentre os quais se destaca o do professor Carlos André Bulhões Mendes, terceiro colocado na eleição interna, que já recebeu apoio público do deputado federal Bibo Nunes, aliado incondicional de Bolsonaro em Brasília.
Caso Bulhões seja indicado, haverá reações. Caso não seja, também. De qualquer forma, o clima de radicalização política não favorece a universidade que, a estas alturas, deveria estar integralmente voltada à produção de reflexões e conhecimento sobre temas bem mais relevantes para a sociedade, como o futuro da educação e os efeitos da pandemia.
É natural que, em um ambiente intelectualizado, no qual se concentram algumas das mais brilhantes mentes do país, a discussão política seja um componente construtivo, mas, para isso, é fundamental não errar a dose. Seria, sim, positivo a academia discutir ainda mais os efeitos e as curas para a radicalização política, em vez de sucumbir a ela.
Pela sua relevância e seu papel de protagonismo, a UFRGS e todas as escolhas relativas a ela devem ser pautadas pelo interesse mais amplo da sociedade e não por disputas partidárias que em nada colaboram para a realização dos objetivos mais nobres da universidade.