O modelo de distanciamento controlado concebido no Rio Grande do Sul tem sido até o momento a melhor solução disponível para enfrentar o avanço do novo coronavírus. A despeito de eventuais contestações, o plano fez o Estado, apesar de o quadro inspirar cuidados, ter números não tão trágicos quanto os observados em outras unidades da federação. Ajudou a evitar, com a colaboração dos gaúchos, que se instalasse uma situação fora de controle que poderia tornar incontornável a pressão sobre o sistema de saúde, com quantidades ainda maiores de mortes.
O mapa do distanciamento e suas premissas devem seguir como guias, mas o modelo não se sustenta sem a compreensão, o apoio e a adesão de todos
Fruto de um amplo entendimento, foi desenhado pelo Estado um engenhoso mapa com indicadores que determinam quais atividades podem abrir ou fechar, em que regiões e quando, de modo a gerenciar com o máximo de previsão o tratamento às vítimas do vírus. Em nenhum momento, desde a sua implementação, houve a promessa ou a ilusão de que o modelo seria capaz de debelar rapidamente a pandemia no Rio Grande do Sul. Esse objetivo dificílimo foi alcançado em poucos países, como Nova Zelândia e Vietnã, mas seria um resultado improvável de ser obtido em qualquer parte do Brasil, por uma série de razões – geográficas, culturais, socioeconômicas e políticas. Mas, dentro do possível, o plano vem cumprindo a sua missão original, como mostram as estatísticas, a ponto de servir de inspiração para estratégias similares, como a adotada em São Paulo.
Com o passar dos meses, e a compreensível angústia pelo agravamento da situação no Estado nas últimas semanas, o modelo vem sendo questionado e até desprezado, tachado como ineficaz. Ele, de fato, não é perfeito, porque naturalmente seria incapaz de prever e dar resposta definitiva a todas as situações particulares em um território tão diverso quanto o Rio Grande do Sul. Observe-se, porém, que, no combate ao coronavírus, tudo é muito novo e ninguém – nenhum país, nem a Organização Mundial da Saúde – demonstrou até agora ter a solução ideal pronta. Todos os métodos são construídos no dia a dia e, apesar das imperfeições e eventuais falhas, é melhor do que nenhum plano, como ocorre na esfera federal.
Desde o início, em razão de seu ineditismo, o modelo de distanciamento controlado vem passando por mudanças calculadas e calibragens. No momento, discute-se mais uma, de oferecer mais autonomia aos prefeitos. A hipótese é sensata, a princípio. São os prefeitos os que melhor conhecem e podem gerenciar com mais precisão as questões específicas de seus municípios. Além disso, o movimento pressupõe que muitos prefeitos deixariam de se escudar em terceirizar responsabilidades por medidas impopulares e compartilhariam com o governo do Estado o ônus de medidas que gerem contrariedade mas ajudem a reduzir a circulação do vírus.
Mas é preciso deixar um alerta. Se os gestores municipais não tiverem pulso firme e independência e cederem a pressões localizadas e imediatistas, sempre mais agudas que as vindas de outras esferas administrativas, poderão ser levados a decisões que colocarão em risco a vida de seus cidadãos. O melhor encaminhamento, portanto, passa, como sempre, pela sensatez e responsabilidade. O mapa do distanciamento e suas premissas devem seguir como principais guias. Mas o modelo não se sustenta por si se não tiver a compreensão, o apoio e a adesão de todos. As outras alternativas extremas – determinar um lockdown generalizado, como houve na Itália e na Espanha, ou liberar geral – são custos altos demais para se pagar para ver.