O crescimento, observado no Rio Grande do Sul, de 242% no registro de armas novas no primeiro semestre em comparação a igual período do ano passado, como mostrou reportagem publicada na edição de ontem de Zero Hora, faz ser necessário soar uma série de alertas em nome da segurança de todos. Por um lado da questão sempre controversa, é louvável a disposição de legalizar o que, de outra forma, poderia estar na clandestinidade. É preciso reconhecer ainda que, no Brasil, a posse de armas é legítima, prevista na legislação e autorizada mediante diversos critérios. Mas, na outra perspectiva, uma abundância de armamento nas mãos da população em geral, mesmo que a aquisição tenha uma intenção válida, gera ao menos três tipos de riscos adicionais, em particular para quem não está familiarizado com o manejo e se imagina protegido pela simples posse de um revólver ou pistola.
Todo cidadão que tiver a intenção de comprar um armamento deverá, antes de adquiri-lo, estar ciente das responsabilidades, dos riscos e pesar prós e contras
O perigo mais comum é de uma reação equivocada e desastrada, com consequências nefastas. A autoconfiança, que gera uma falsa sensação de segurança em quem não detém o conhecimento teórico e o treino prático, leva, com certa frequência, a desfechos graves com repercussões trágicas ao proprietário ou seus familiares em casos de assaltos ou ameaças ou mesmo ao cometimento de um crime em um momento de desequilíbrio emocional. Outro risco está nos chamados acidentes domésticos. Armas são uma atração muitas vezes irresistível para crianças e adolescentes. Inúmeras tragédias no seio do lar já ocorreram porque o dono do armamento o deixou ou esqueceu destravado e municiado ao alcance de pessoas que, pela imaturidade ou outra razão, não compreendem os perigos de manipular qualquer artefato letal. Por fim, armas furtadas ou roubadas são uma das principais fontes de abastecimento do mundo do crime. Quanto mais forem vendidas, mais elevado será o risco de um número maior acabar caindo em mãos erradas, alimentando o ciclo sem fim da violência e da criminalidade.
É necessário reforçar ainda que posse de arma é bem diferente de porte. A primeira dá ao proprietário o direito de tê-la em sua residência ou local de trabalho. A segunda confere a possibilidade de circular armado. O desrespeito a esses conceitos ou mesmo a compra de armas ilegais abre margem para dramas como o da família que teve três pessoas assassinadas na zona sul de Porto Alegre, no início do ano, em razão de uma discussão banal de trânsito. A dor que aflige os que perderam seus entes queridos é indescritível. Mas, de certa forma, o episódio também se converte em uma desgraça para a família do rapaz que está preso e terá de responder na Justiça pelo crime.
Todo cidadão que tiver a intenção de comprar uma arma deverá, antes de adquiri-la, estar ciente das responsabilidades, dos riscos e pesar prós e contras. Se ainda assim a decisão for pela obtenção, para possuir um armamento em casa é imprescindível ter o treinamento e o conhecimento adequados, bem como ser rigorosamente avaliado pelas autoridades competentes para se ter certeza de que reúne condições para a posse. Tudo para evitar novas tragédias.