O atual governo federal dá a cada dia provas de ter uma incorrigível vocação para passar vexame dentro e fora do país. A mais recente amostra dessa propensão ao fiasco é a tentativa risível de manipular os números da pandemia no Brasil. É um episódio que entrará para os livros de história como um dos mais grotescos capítulos da sequência de vergonhas e inépcias da gestão Bolsonaro, agora coroada com uma atitude amadora de tentar dissimular o quadro real do novo coronavírus no território nacional.
Ter e divulgar informações corretas, confiáveis e completas é o mínimo para que as autoridades responsáveis da saúde possam se planejar
Tratar números com honestidade e respeito não é apenas uma questão moral e ética, valores neste caso mais uma vez pisoteados pelos atuais inquilinos do Planalto. Ter e divulgar informações corretas, confiáveis e completas é o mínimo para que as autoridades responsáveis da saúde, em todos os níveis, possam planejar e colocar em prática estratégias consistentes para combater o vírus que já vitimou em torno de 37 mil brasileiros, sem contar a aparente enorme subnotificação. Se negar a realidade apenas com palavras e uma narrativa que convencia somente os fanáticos já chocava os brasileiros sensatos, cientes de que o país escala as primeiras posições no planeta em casos e mortes, sonegar e manipular números se inclui em uma outra categoria do absurdo e merece resposta das instituições ciosas de seus deveres.
A tentativa capenga de ocultar a verdade dos olhos e ouvidos da população brasileira produz uma série de efeitos, além de contribuir ainda mais com a desmoralização de um governo já de seriedade colocada em dúvida, para dizer o mínimo. Um deles é a humilhação de um general da ativa improvisado como ministro em uma área que desconhece e, pior, submetido a ordens superiores para maquiar a realidade. Outra conse-
quência é a implosão da credibilidade do Ministério da Saúde, que a despeito das estultices de Bolsonaro gozava de grande confiança popular até a demissão de Luiz Henrique Mandetta. Por obra e graça do presidente, o Brasil é hoje equiparado, em termos de confiabilidade quanto às estatísticas da pandemia, a países como Coreia do Norte e Venezuela. É uma degradação de imagem impensável até mesmo para quem já nutria desconfianças em relação ao governo Bolsonaro.
Brasileiros e gestores, entretanto, não ficarão no escuro. Um alento vem da rápida resposta de outros organismos, como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, que se apressou em se mobilizar para coletar e disponibilizar em um portal dados confiáveis. Uma aliança de veículos de comunicação, entre os quais se incluem os do Grupo RBS, também vai assegurar que a população não fique à mercê da incompetência e da má-fé dos governantes que hoje tentam iludir o país e siga tendo o direito de receber diariamente informações transparentes sobre a evolução da pandemia no Brasil.