Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Uma das características dos tempos atuais é a incapacidade de ouvir. O simples anúncio de um possível plano de crescimento para o país – Pró-Brasil – ainda no campo das intenções, gerou uma unanimidade de críticas. Os liberais consideraram-no estatista e até comunista, como se comunismo fosse opção factível no mundo atual e – pasmem – em Brasília. Os desenvolvimentistas denunciaram que não havia plano, uma verdade, mas adiantaram a indisposição para respaldar seus autores: o "mal de origem" levou ser contra o que não existia. A esquerda foi na mesma linha, sem contar sua dificuldade histórica de apoiar projetos de crescimento, associados à acumulação capitalista em detrimento da distribuição, como se fosse possível distribuir sem haver renda – que, contabilmente, equivale à produção. As comparações com o Plano Marshall, o II PND (de Geisel) e os PACs (Lula/Dilma) ajudaram a dar o tom extemporâneo da proposta, ridicularizando-a como saudosista.
Todavia, a recessão e o desemprego são gravíssimos e nenhuma alternativa pode ser descartada do debate. Os poucos slides apresentados não sustentam as ilações dos críticos. Simplesmente alertavam para o óbvio: um dia a pandemia passará. Já se estima queda do PIB de 8% no ano, e sobre a estagnação de uma década. O crescimento voltará à ordem do dia e nova institucionalidade entre o setor público e o privado deve desde já ser pensada. O Estado sairá da crise sem capacidade de endividamento diante da elevada relação dívida/PIB. O setor privado, descapitalizado, com capacidade ociosa e carente de financiamento, será incapaz de alavancar a si mesmo. E este não virá pelo lado externo, pois os países líderes, em situação análoga, não bancarão novo "Plano Marshall". Em contexto de escassez, há de se ter prioridades. Qual infraestrutura? O Brasil priorizou construir estádios em vez de hospitais e hoje pagamos a conta. Atender a Fifa era mais importante que saúde, educação, ciência e tecnologia. Temos incapacidade ímpar de aprender com os erros do passado e sequer reconhecê-los.
O ex-ministro Mandetta propôs ler Platão em busca das luzes de fora da caverna. Sugiro Tomás de Aquino, apologista da temperança, virtude associada à empatia e ao equilíbrio. Se os tempos remetem à Idade Média, que seja pelas mãos de seu maior pensador.