Apresentado em linhas gerais na entrevista coletiva com a presença de cinco ministros e do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o plano de recuperação socioeconômica batizado de Pró-Brasil vem em boa hora, dado o agravamento da crise provocada pelo coronavírus. Por se tratar de um plano que exigirá investimentos públicos e gastos que aprofundarão o déficit público, seria natural a presença do ministro da Economia, mas Paulo Guedes não estava na mesa, embora tenha participado pela manhã da reunião que tratou do plano.
Por inexplicável, a ausência de Guedes sugere que o todo-poderoso ministro da Economia perdeu poder para os militares. Não será surpresa se seu ciclo no governo estiver terminando, já que o receituário liberal que vinha aplicando foi para o vinagre com a crise global que está obrigando os governos do mundo inteiro a despejarem dinheiro no socorro aos prejudicados pela pandemia.
O comando do programa será do chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, que coordenou a apresentação do lado dos ministros Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), Nelson Teich (Saúde), Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Embora o programa envolva todas as pastas, é Guedes o que tem a chave do cofre.
Braga Netto não deu detalhes de quanto será o investimento público nem de quantos empregos se imagina preservar ou gerar. Disse que os números existem, mas não iria adiantá-los agora, já que a primeira reunião para tratar das medidas específicas está marcada para sexta-feira (24).
O poder dos militares não está somente na coordenação do plano ficar nas mãos do general Braga Netto e na indicação de outro general, Eduardo Passuelo, como secretário executivo do Ministério da Saúde. A divisão do Pró-Brasil em dois eixos, denominados de “ordem e progresso”, cujo nexo não ficou claro na entrevista, remete à lógica dos militares nos planos de crescimento dos anos 1970, mas pode ser escolha pessoal do presidente Jair Bolsonaro, que escolheu a expressão “Pátria Amada, Brasil” como marca do seu governo.
O ministro da Infraestrutura e Logística disse que não haverá “pirueta” e que os investimentos previstos serão assegurados - boa notícia para o Rio Grande do Sul, que tem duas obras de vulto dependendo de recursos federais, a duplicação da BR-116 e conclusão da ponte do Guaíba.
Além de Guedes, faltaram na mesa os ministros Onyx Lorenzoni e Damares Alves, que cuidam dos programas sociais do governo, já que Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, ganhou espaço para explicar os impactos do plano para o setor. De concreto, anunciou um programa de utilização de hotéis para abrigar profissionais da saúde e regras que permitirão fôlego às agências de viagem.
Em sua primeira participação, o ministro da Saúde reafirmou a necessidade de montar um banco de dados que permita conhecer melhor os efeitos do coronavírus. Mostrou que está sintonizado com a demanda de médicos e hospitais, que querem a retomada do atendimento de pacientes de outras doenças, para evitar prejuízos financeiros e o represamento da demanda para quando a crise da covid-19 passar.
Teich expressou a preocupação com os pacientes, que evitam procurar os serviços médicos por medo do coronavírus, e podem sofrer com o agravamento de outras moléstias, como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares.