A postura esdrúxula do presidente Jair Bolsonaro em relação à pandemia do novo coronavírus e outras bizarrices em série produzidas pela ala ideológica do governo federal levam lamentavelmente o país a um isolamento cada vez maior e mais preocupante no cenário internacional. O outrora, aos olhos do mundo, simpático Brasil vem se tornando um pária global não apenas nas questões relativas ao combate à covid-19, mas também graças a outros episódios, como o desdém com a proteção da Amazônia, elucubrações sobre teorias conspiratórias geopolíticas e mesmo as controvérsias recorrentes que envolvem familiares do presidente.
Quando houver um retorno à normalidade, é possível afirmar que o Brasil estará no fim da fila da escolha dos investidores
Ainda nesta semana, o Wall Street Journal, principal diário dedicado a finanças e negócios dos Estados Unidos, publicou reportagem sobre a confusão política e econômica em que se transformou o Brasil e os apuros em que se meteu Bolsonaro com as acusações do ex-ministro Sergio Moro. Uma péssima propaganda para o país em um periódico que é leitura obrigatória de investidores de todo o planeta e que, quando a epidemia passar, certamente começarão a escolher os melhores mercados onde aplicar o seu capital. A imagem nacional, cada vez mais arranhada, indica que ficará mais difícil para esses recursos serem direcionados para o Brasil. O influente Washington Post, outro entre os principais jornais americanos, também dedicou espaço há poucos dias para mostrar a descoordenação brasileira na luta para conter o coronavírus.
Sinônimo de irresponsabilidade, o Brasil também vira uma preocupação para os vizinhos do Mercosul, em uma situação bem mais confortável em relação à pandemia, com taxas de infecção e de mortes muito abaixo do Brasil. No mesmo tom, o ídolo de Bolsonaro, Donald Trump, reiteradamente vem chamando a atenção para o grave quadro brasileiro. Confirmando a convicção isolacionista, o país ficou de fora de uma aliança global convocada pela ONU e pela União Europeia para acelerar o desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus. O chanceler Ernesto Araújo não desperdiça chance de meter os pés pelas mãos, como mostrou a desastrada comparação entre a quarentena e os campos de concentração nazistas. Principal parceira comercial do Brasil, a China é repetidamente hostilizada pela ala mais fanatizada do entorno presidencial. A coleção de excentricidades, para dizer o mínimo, incluiu ainda a insistência de Bolsonaro em se transformar em garoto-propaganda de um medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19 – assunto que agora caiu no esquecimento.
A política e o comportamento do presidente e de seus seguidores mais extremados tornam o Brasil não apenas um mau exemplo no mundo. A sequência de estultices, algumas folclóricas e outras perigosas, como as recorrentes ameaças à democracia e os atos de violência, tornarão a fatura da crise ainda mais cara para o Brasil. Quando houver um retorno à normalidade, é possível afirmar que o Brasil estará no fim da fila da escolha dos investidores. Afinal, é difícil ver segurança em uma nação cujo presidente, a cada dia, implode ainda mais a credibilidade e a boa imagem de terra de oportunidades que o Brasil já ostentou.