O endosso do presidente Jair Bolsonaro a manifestações contra o Congresso, com o envio de mensagens ao seu círculo de contatos, é despropositado e deve ser visto com preocupação. A atitude pode ser interpretada como prova de seu pouco apreço pelas instituições democráticas, para dizer o mínimo. Deputados e senadores, é bom ressaltar, foram eleitos assim como o presidente e, por isso, não podem ser deslegitimados, mesmo que vez ou outra seja possível fazer críticas à atuação do parlamento. O episódio também pode ser analisado sob o aspecto das consequências em termos de tramitação de temas relevantes para o país no Congresso, e justo no momento em que o governo promete enviar o texto da reforma administrativa para o Legislativo. Se o clima entre os dois poderes já não era dos mais amistosos, um afastamento ainda maior põe em risco as votações, com o agravante de um calendário reduzido pelas eleições, no segundo semestre. Da mesma forma, essa falta de compreensão do presidente se torna grave. E seria mais inquietante ainda se esta espécie de autossabotagem for premeditada, levando em consideração tanto a falta de entusiasmo pessoal de Bolsonaro pelo tema quanto pela hipótese de o tensionamento ser proposital.
É intrigante o presidente não entender que as pautas no Congresso são vitais para o ajuste das contas públicas e, portanto, para a economia
É intrigante, da mesma forma, o presidente não entender que as pautas no Congresso são vitais para o ajuste das contas públicas e, portanto, para o desempenho da economia. Se Bolsonaro mira 2022, parece esquecer que o nível da atividade e o emprego são sempre fatores decisivos em eleições e, quando estão em bom ritmo e patamar, tendem a beneficiar o governante de ocasião. O lógico, portanto, seria um mínimo de colaboração de Bolsonaro, ao menos evitando desgastes desnecessários com o Congresso que, para a sorte do país, vem demonstrando maturidade e boa vontade com a agenda de modernização nacional. O temor global com o coronavírus vai diminuir o crescimento da economia mundial, o que eleva a importância de o Brasil arrumar a casa, para ter um potencial maior de avanço pelo mercado interno. Além da reforma administrativa, PEC Emergencial, privatizações, reforma tributária e abertura do mercado de saneamento são algumas pautas importantes que caminham para um terreno de incertezas com a escalada das tensões insufladas pelo Executivo, seu entorno e falanges das redes sociais.
Fizeram bem os generais, entre eles o vice-presidente Hamilton Mourão, ao virem a público dizer que não autorizaram a utilização de suas imagens em uma montagem que se espalhou pela internet com uma convocação de movimentos bolsonaristas para as mobilizações programadas para o dia 15 de março.
Manifestações dentro da legislação são válidas, mas o conteúdo de viés antidemocrático, com a insinuação de que os militares esperam um sinal "do povo" para fechar o Congresso, tem de ser veementemente repudiado. Com graves problemas, o Brasil precisa ser pacificado. Mas, lamentavelmente, o próprio governo tem sido a grande fonte de instabilidade política do país. Fica a dúvida de onde o presidente Bolsonaro quer chegar.