É compreensível que setores do funcionalismo lutem para manter vantagens e benefícios e, a cada reforma proposta, pressionem governo e parlamento na tentativa de mitigar perdas. Mas, a partir desta terça-feira, quando começa a convocação extraordinária da Assembleia Legislativa, é preciso não esquecer que está em jogo o caminho que o Rio Grande do Sul vai percorrer nos próximos anos.
Uma via leva em direção à manutenção do esforço para evitar a falência múltipla das finanças e dos serviços públicos e aumenta as chances de, no futuro, ser reencontrado um equilíbrio que possibilite oferecer melhores contrapartidas aos impostos recolhidos dos cidadãos. O outro, o da inércia e da negação da realidade, conduz à aceleração do quadro de degradação fiscal do Rio Grande do Sul, um drama de tal envergadura, que, ao fim e ao cabo, impõe perdas a todos. Mas principalmente à grande maioria da sociedade gaúcha, a razão da existência de toda a estrutura do Estado, e que usualmente pouco poder de influência têm nos bastidores das negociações políticas.
A situação do Estado é péssima inclusive para os atuais servidores, sem qualquer perspectiva de voltarem a receber em dia
A situação é péssima, inclusive, para os atuais servidores, sem qualquer perspectiva de voltarem a receber em dia. Perdem a educação, a saúde, a segurança e a infraestrutura. Algo que compromete a qualidade de vida dos gaúchos de hoje e condena as futuras gerações, especialmente dos mais humildes, a um ensino de baixa qualidade e a um atendimento médico precário. Manter o cenário vigente significa a continuidade de uma carga tributária alta, minando ainda mais a competitividade da economia, com reflexos negativos no emprego e na renda dos gaúchos. Um número cada vez maior de talentos aqui nascidos será forçado a migrar em busca de oportunidades e satisfação profissional. Conservar a condição existente é manter estradas esburacadas e uma logística ineficiente, colocando vidas em risco e afastando empresas para outros Estados, em situação fiscal melhor.
Por mais doloroso e controverso que seja apreciar reformas carregadas de sacrifícios, as razões listadas mostram o quanto é importante para o futuro do Rio Grande do Sul a Assembleia aprovar o pacote do governo Eduardo Leite com medidas que reestruturam carreiras e alteram pontos do sistema previdenciário do Estado. Foram quatro meses de exaustivas tratativas com deputados e categorias. Com as concessões feitas ao longo das negociações, a economia prevista em 10 anos, calculada inicialmente em R$ 25 bilhões, caiu para R$ 19 bilhões. É inclusive um valor modesto diante do tamanho do rombo do governo, de R$ 12 bilhões anuais apenas na conta previdência. Mas trata-se de uma reforma absolutamente necessária e, por isso, é imprescindível que os últimos impasses sejam equacionados nas próximas horas. Apela-se à consciência e ao senso de responsabilidade dos deputados de todos os partidos. Votá-la e ratificá-la é um compromisso com os anos e as décadas que virão.