O governo Jair Bolsonaro tem se notabilizado por jogar ideias no ar, esperar pela repercussão, sobretudo a partir do ângulo das redes sociais, e depois avançar ou não com a proposta. As duas mais recentes são a criação do Ministério da Segurança, desmembrado da atual pasta da Justiça, e o chamado imposto do pecado, que incidiria sobre bebidas, cigarros e doces. São, por sinal, duas iniciativas enviesadas. A primeira, por ter como alvo esvaziar politicamente um possível adversário de Bolsonaro em 2022, na contramão da promessa de redução de ministérios. A segunda, por contrariar frontalmente os princípios liberais da própria equipe econômica, considerado o abuso da dosagem de impostos aplicados sobre o povo brasileiro. A ideia também revela desconhecimento sobre uma questão básica em relação aos cigarros: mais impostos não têm o poder de reduzir o consumo, e sim de aumentar o contrabando, desviando recursos que deveriam ir para os cofres brasileiros e alimentando uma cadeia criminosa.
A gestão Bolsonaro se caracteriza por constantes idas e vindas, em desmentidos e desautorizações do presidente a seus principais assessores
Não é esse, porém, o cerne do problema. A grande questão é que um governo de balões de ensaio cria permanentemente polêmicas inúteis, desperdiçando foco e energia. Um princípio básico de gestão, pública ou privada, é alinhar a comunicação depois de discussões internas. A gestão Bolsonaro, porém, se caracteriza por constantes idas e vindas, em desmentidos e desautorizações do presidente a seus principais assessores, e por repetidos constrangimentos.
Essa rotina de vaivéns que captura a atenção do país e desperta ira e emoções via redes sociais produz, no fundo, uma série de lideranças inseguras, incapazes de organizar a administração em torno de ideias e conceitos, sem autonomia para colocá-las em prática. Em um dia, o presidente sanciona a instituição do juiz de garantias, criado soberanamente pelo Congresso. No outro, seu ministro da Justiça saúda a decisão monocrática de um ministro do STF que acaba com essa figura depois de o presidente da Corte considerar o tema constitucional – o STF, diga-se, também não prima pela coerência e racionalidade.
Em outra ocasião, o presidente dá curso ao esvaziamento de seu ministro mais popular e depois enterra a ideia, em um desgastante jogo de poder e vaidades. Em um dia, o ministro da Economia diz que a pobreza é o maior inimigo do ambiente, mas no seguinte sua colega da Agricultura, preocupada com o impacto sobre a imagem dos produtores brasileiros, corrige Paulo Guedes e lembra que o verdadeiro agronegócio não é o responsável pelos problemas nesse campo.
A fábrica de sobressaltos pode fazer parte de um estilo solto e improvisado, mas o Brasil é um país por demais complexo e diversificado para o governo ficar ao sabor do vento das idas e vindas e de suas repercussões nas redes. Nada substitui a análise técnica, racional e descontaminada dos grandes problemas nacionais e o encaminhamento preciso e defensável de soluções. Todo o resto são marolas inúteis que embalam polêmicas igualmente desnecessárias.