Talvez ouvindo e compreendendo o recado que vem de Davos, o presidente Jair Bolsonaro finalmente tomou uma atitude capaz de gerar repercussão positiva e bons resultados práticos tanto a curto quanto a longo prazo no tema da proteção da Amazônia. Este é, inequivocamente, o assunto mais sensível para a imagem do Brasil no Exterior e a postura do governo federal em relação à defesa do ambiente já se mostra determinante como fator modulador do apetite global para direcionar capitais para o país, imensamente carente de investimentos. Esta é a advertência que ecoa do encontro da elite econômica mundial na Suíça, e a decisão do Planalto de criar o Conselho da Amazônia e a Força Nacional Ambiental é uma resposta que vai ao encontro da busca por soluções para amenizar a apreensão internacional relacionada à saúde da maior floresta tropical do mundo.
Não haverá êxito se o presidente e auxiliares continuarem vocalizando ideias disparatadas que façam o esforço ser em vão e a floresta, em 2020, voltar a arder
A angústia sobre o futuro da Amazônia, aliás, também é dos brasileiros. Além da importância planetária na regulação do clima, a imensa região verde tem influência direta no regime de chuvas inclusive do sul do Brasil. Enxergar a floresta em pé como um estorvo a interesses econômicos imediatistas, especialmente para atividades predatórias, é um dos maiores equívocos do governo Bolsonaro. Junto a essas duas iniciativas anunciadas pelo presidente, espera-se que, a partir de agora, não sejam mais ouvidas declarações que no fim das contas servem de incentivo aos inimigos da floresta, grande riqueza do Brasil.
O que se escutava, até há pouco, eram manifestações desastrosas do presidente culpando ONGs e até um ator de Hollywood pelo desmatamento e queimadas. Uma conduta que, por estapafúrdia, arranha a imagem do Brasil e se converte em um risco para o agronegócio brasileiro, pela possibilidade de boicotes se transformarem em fechamento de mercados e dificuldade para abrir novos. Percebe-se, portanto, uma dupla ameaça gerada pelo comportamento equivocado observado até agora: uma por possíveis dificuldades de colocação de produtos da agropecuária e outra por prováveis prejuízos por alterações na regularidade da chuva – uma conta que recairia inclusive sobre a agropecuária gaúcha, que nada tem a ver com derrubadas e incêndios.
O Conselho da Amazônia, anuncia-se, será responsabilidade de vários ministérios, com ações coordenadas para proteger e promover o desenvolvimento sustentável da região. A Força Nacional Ambiental, por sua vez, terá um trabalho mais voltado ao combate ostensivo às irregularidades. Outra boa iniciativa é transformar o atual Centro de Biotecnologia da Amazônia em um núcleo voltado à geração de negócios ambientalmente responsáveis. Acerta ainda Bolsonaro em nomear o vice-presidente Hamilton Mourão para comandar o colegiado interministerial. Conhecedor da realidade local, o general também já se mostrou hábil em apagar outros incêndios gerados pelo governo. Nenhuma dessas frentes, entretanto, terá êxito se o presidente ou auxiliares como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, continuarem vocalizando ideias disparatadas que façam todo o esforço ser em vão e a floresta, em 2020, voltar a perder área e a arder.