O avanço do novo coronavírus surgido no território chinês e o seu potencial letal evidenciam a necessidade de uma nova postura das autoridades da área de saúde e escancara uma realidade com a qual a população mundial precisará se acostumar. A humanidade, infelizmente, terá de aprender cada vez mais a conviver com emergências do gênero. Pela parte do poder público, o episódio reforça a importância de redobrar a prevenção para limitar a disseminação de agentes patológicos até então desconhecidos que podem causar grandes epidemias. O fato de a ameaça já ter feito 18 vítimas fatais na China por complicações respiratórias, além de ter infectado cerca de 600 pessoas, com casos confirmados em outras oito nações, mostra que países, Estados e cidades, inclusive do Brasil, devem conceber e implementar com urgência planos de contingência que contemplem aspectos como bom filtro para detectar suspeitas em viajantes que chegam com sintomas compatíveis, esclarecimentos à população em geral e a preparação de centros de isolamento e tratamento para uma resposta imediata.
É preciso implementar plano de contingência para detectar suspeitas em viajantes com sintomas compatíveis e a preparação de centros de isolamento e tratamento
Mesmo que o vírus não tenha chegado ao Brasil, age de forma prudente e acertada o Ministério da Saúde ao anunciar um Centro de Operações de Emergência voltado ao coronavírus, com a tarefa de preparar a rede pública para a possibilidade de casos serem confirmados no país. Até ontem, cinco suspeitas foram descartadas. Além de técnicos da pasta, o grupo é composto por especialistas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Instituto Evandro Chagas (IEC) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS). Ainda na quarta-feira, a Anvisa informou estar elevando o nível de controle em portos e aeroportos brasileiros. Mas ainda é preciso que Estados e municípios tenham um planejamento semelhante.
As medidas radicais tomadas por autoridades chinesas demonstram a seriedade da situação. Além de isolar e colocar em quarentena a cidade de Wuhan, com 11 milhões de habitantes, onde começou o surto, as restrições ao transporte público atingem outras áreas urbanas próximas. Uma operação dramática e de extrema complexidade logística, mas justificada, ainda mais pela aproximação das festividades do Ano-Novo chinês, quando um enorme contingente costuma viajar no país ou mesmo para o Exterior, elevando o perigo de o vírus de espalhar. Por enquanto, não foi detectada a transmissão entre pessoas fora da China. Com isso,ontem a Organização Mundial da Saúde considerou ser cedo para considerar o caso uma emergência global.
Mesmo assim, é desaconselhável baixar a guarda. O histórico brasileiro, em episódios como o da gripe A – também originado na China – ou do vírus da zika, que atingiu 144 mil pessoas no país, especialmente no Nordeste, mostra que a reação tem sido lenta. É de se esperar que as autoridades da saúde tenham aprendido a lição. O Brasil, desta vez, não poderá mais alegar que foi pego de surpresa.