Por Armando Castelar, coordenador da área de Economia Aplicada do FGV Ibre
É famosa a frase de Groucho Marx de que "é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro". Mesmo sabendo disso, o analista econômico não tem como fugir de tentar prever o futuro, especialmente quando um novo ano está logo ali, à espreita, louco para começar. Assim sendo, o que esperar de 2020? Tudo indica que, pelo menos na economia, o próximo ano deve ser melhor do que este. A inflação deve se manter no patamar de 2019, acumulando 3,9% de janeiro a dezembro. A taxa Selic, por sua vez, deve ficar constante nos atuais 4,5%, ainda que haja quem aposte em mais um corte, para 4,25%, em fevereiro. O resultado disso serão taxas de juros reais muito baixas, mais em linha com o que se observa nas economias avançadas hoje em dia.
Os juros baixos levarão a uma forte expansão do crédito, já em curso, mas que tende a se acelerar. A expansão do crédito alavancará o crescimento de setores como o comércio, serviços diversos e a construção residencial. Como esses empregam muita gente, a sua expansão deve gerar aumento relevante do emprego, especialmente nos de média qualificação. Também deve contribuir para o crescimento mais rápido do PIB a recuperação do setor de extrativa mineral, afetado neste ano pelo acidente em Brumadinho, e um maior dinamismo da agropecuária. No todo, isso levará a um crescimento do PIB na faixa de 2,5% no ano que vem, contra 1,2% em 2019.
A expectativa de um melhor desempenho doméstico é reforçada por um cenário externo também mais amigável, devido à perspectiva de finalmente se concluir o processo do Brexit e à trégua esperada na guerra comercial entre os EUA e a China. Ainda que os indicadores continuem apontando para uma desaceleração da economia global em 2020, a tendência a que a aversão ao risco diminua e o dólar se enfraqueça um pouco pode estimular os estrangeiros a investir mais no país.
A questão que se coloca, portanto, é se conseguiremos avançar com as reformas necessárias para sustentar o crescimento mais alto a partir de 2021. Aqui as perspectivas parecem menos positivas, pois, sem uma sólida e ampla base de apoio no Congresso, o governo terá dificuldade de avançar com sua agenda de reformas. Ainda mais com uma economia que cresce bem, reduzindo o senso de urgência, e o receio de que também por aqui estourem protestos de rua, como em outros países.