Por Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese
A gravíssima recessão do período 2014-2016 derrubou a economia brasileira e destruiu milhões de empregos. Cinco anos depois, há no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 12,4 milhões de desempregados, 4,2 milhões de desalentados, 12 milhões de assalariados sem carteira assinada, 24,5 milhões de trabalhadores por conta própria, 24 milhões de subocupados, 65 milhões de pessoas fora da força de trabalho. A precarização tomou conta do mundo do trabalho no país e não vai ceder. O que esperar para 2020?
Há indicações de que, em 2020, a economia brasileira, rastejante e semiestagnada, apresentará baixo crescimento. Nessa dinâmica e dadas as características do crescimento, fica um estoque monumental de passivos econômicos e sociais cada vez mais distantes de serem superados.
No mundo do trabalho, a perspectiva é de que aumente o número de empregos formais de baixa qualidade, com salários ruins, de contratos intermitentes e com jornada parcial, de postos de trabalho precários etc. Até poderão ser criados postos de trabalho com carteira, talvez algo em torno de 800 mil, mas o assalariamento sem carteira e o trabalho autônomo continuarão em alta, assim como o desemprego. A informalidade promete dar a tônica. Salários devem crescer levemente e é possível que as novas ocupações tragam discreto aumento da massa salarial. Continuará grande a dificuldade para os sindicatos negociarem salários e condições de trabalho.
Há uma transformação quantitativa e qualitativa no mundo do trabalho, na dinâmica da oferta de postos de trabalho, devido a inovações tecnológicas, terceirização ilimitada, novas formas legais e precárias de contratação e também em consequência dos impactos da emergência climática. A mudança patrimonial das empresas públicas privatizadas e das empresas privadas vendidas avança cada vez mais, com reestruturações que promovem inovações que dispensam empregos. Mulheres, negros e jovens são e continuarão sendo os mais afetados, com aumento da desigualdade e precarização.
A qualidade dos empregos e dos postos de trabalho tem sido reduzida, refletindo o baixo dinamismo de uma economia sem indústria, pouco Estado, pequeno investimento e baixa demanda de consumo das famílias. Talvez 2020 revele a feição de uma economia que deixa muito ricos alguns poucos cidadãos e empobrece a maioria. Uma economia de uma sociedade sem justiça social, para a qual o futuro não oferece esperança, de uma nação sem utopia.