Por Gabriela Ferreira, líder de Impacto Social no Tecnopuc e diretora técnica da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
A Black Friday, conhecido dia anual de descontos, superou os 90 bilhões de dólares em vendas em 2018 somente nos EUA, local onde teve início antes de se espalhar por diversos países do mundo. No Brasil a primeira edição aconteceu em 2010 com faturamento crescente a cada ano. A previsão para 2019 é de mais um recorde de vendas, com um aumento de 21% em relação a 2018, ultrapassando a casa de R$ 3,1 bilhões de reais em vendas.
Porém, em um contexto de crescente preocupação com a sustentabilidade, esse ícone do hiperconsumismo pode estar com os dias contados. Pesquisa da Accenture Holiday Shopping, realizada com 1.500 consumidores norte-americanos, mostra sinais dos tempos e revela que 55% estão menos dispostos a comprar na Black Friday deste ano, contra já 51% no ano anterior. No Reino Unido, a conhecida loja Marks and Spencer, pelo segundo ano consecutivo, não vai oferecer descontos na data. E não está sozinha, visto que diversos varejistas do país estão seguindo o seu exemplo ou mudando seu apelo de vendas para uma lógica mais sustentável como, por exemplo, doando os lucros das vendas desse dia. Também na França esses sinais são vistos: a Green Friday é um movimento iniciado em 2017 e atualmente reúne 180 empresas que realizam atividades de conscientização em todo o país.
Na última edição foram arrecadados mais de 15.000 euros em doações para instituições que promovem a sustentabilidade. Este ano a sexta-feira verde, apoiada pela cidade de Paris desde a sua criação, está em parceria com a Semana Europeia para a Redução de Resíduos. Outro exemplo vem da cidade de Victoria, no Canadá, que promove a Blue Friday, revertendo 100% do lucro das vendas para a Surfrider Foundation, organização que tem por objetivo proteger oceanos, ondas e praias.
Por aqui, ser sustentável se torna cada vez mais um fator de decisão de compra do brasileiro, e já está na lista das TOP 3 preocupações para mais de 32% da população, segundo pesquisa do Euromonitor.
O poder de compra do consumidor, mais do que capacidade financeira, revela efetivamente o que – produtos, marcas, causas – escolhemos apoiar. Usar de forma responsável esse poder passa, necessariamente, por repensar a forma de consumo. Na próxima semana temos uma ótima oportunidade de refletir sobre isso. Vamos aproveitar a chance?