Por Antônio Augusto Lovatto, engenheiro de Transportes
Os dados são alarmantes. Segundo o Denatran, o número de veículos motorizados no país – carro, ônibus, moto e caminhões – saltou de 54,5 milhões em 2008 para 100,7 milhões em 2018. Esse aumento desproporcional em relação à capacidade viária das cidades, gera uma deseconomia exponencial. Estudos apontam prejuízo em tempo gasto no trânsito, em mais de R$ 200 bilhões/ano. Algo em torno de 3% do PIB.
A política de investir no transporte individual está se mostrando um desastre. Um exemplo disso é o caso das locadoras de automóveis que se transformaram em verdadeiras revendas. Compram com desconto de até 18% direto da fábrica, e em menos de dois anos revendem. Essa política é mais um dos subsídios que ajuda a viabilizar os aplicativos de transporte, já que grande parte dos veículos é locada.
O Brasil é o segundo mercado mundial nesse tipo de transporte. Os subsídios estão "soprando" para o lado contrário, esquecendo completamente da produtividade e sustentabilidade que tanto são necessárias para a mobilidade urbana. Nas principais capitais brasileiras, circulam no transporte coletivo mais de 30 milhões de passageiros/dia. Esses 30 milhões ocupam 8% do sistema viário, enquanto que o automóvel utiliza 70% da via e transporta um pouco mais de um passageiro por carro. A "disputa" entre o automóvel e o ônibus, pelo mesmo metro quadrado de asfalto, é o principal motivo para a perda de competitividade no setor.
Em Porto Alegre, os investimentos em infraestrutura de transporte são da década de 1970 e 1980. Os corredores de ônibus da cidade tiveram e têm um papel fundamental na redução dos custos tarifários. A partir de 2010, surgiram as faixas exclusivas (junto ao meio fio), uma opção de segregação do ônibus e que produz um desempenho quase igual aos corredores centrais. Mas, não podemos esquecer, houve um hiato de quase 30 anos em investimento. Esse "abandono" produziu consequências. A perda de produtividade no transporte coletivo fez com que as pessoas mudassem de hábitos, procurassem outro emprego e até trocassem de endereço. Espero que este "novo olhar" que Porto Alegre vem recebendo por parte das autoridades, não seja uma política de governo, mas que se consolide em uma política de Estado.