Por Ricardo Felizzola, CEO do Grupo PARIT S/A
Um dos maiores entraves para a criação de um ambiente de inovação no Brasil é a falta da cultura empreendedora. Aqui um ponto que necessita de profunda análise. O que uma família brasileira deseja para um filho? Que se classifique em concurso público, passando a trabalhar em uma repartição ou empresa estatal, ou que ele tenha em mente fazer dinheiro por conta própria, estabelecendo um negócio?
As famílias compõem comunidades e estas caracterizam-se por sua cultura. O Brasil é um continente e expressa diferentes crenças a partir de suas regiões. Compare-se a região de Caxias do Sul, na Serra, com a de Petrolina, no sertão, ou com a de Barretos, no interior paulista. Ao longo dos anos, uma ação de unificação – que pode inclusive ser criticada – com a centralização do sistema político em Brasília e do financeiro e de mídia no Rio e em São Paulo influencia esses polos regionais na forma de alinhamento.
O desenvolvimento do país por iniciativas de empreendimento do Estado, ideia que entusiasma a esquerda, não é algo que se possa dizer que funcione. A empresa estatal não retorna para a sociedade valor compatível com suas expectativas. Ao contrário, junte-se ao assunto um texto constitucional produzido em 1988, que estabelece engrenagem de direitos quase absurda, e chega-se a resultados insustentáveis que estão aí. Qual a visão: um Estado capaz de empreender, uma sociedade onde se vai trabalhar para o Estado com todas as garantias e no qual a meritocracia é abominada, e a garantia, por lei, do bem-estar de todos. Isto é socialismo.
Nenhum país registrou inovações com esse modelo. O que floresce é baixa produtividade, desinteresse profissional e corrupção. O capitalismo neste ambiente não funciona corretamente, pois a iniciativa privada está amarrada pela burocracia estatal. Florescem empreendimentos dos “amigos do rei” e a corrupção se apresenta como fator de competitividade.
A inovação precisa do capitalismo na sua essência benéfica: um sistema que suporta as iniciativas privadas financiando empresas novas que vão crescer.
Tome-se o exemplo de Israel: ali o poder público prestigiou o capitalismo e o empreendedorismo. É a nação das startups. Empresas nascentes são 5 mil, numa comunidade de 8,7 milhões e mais 350 centros de pesquisa. Houve investimento em educação de excelência e formação de fundos de capital que financiam as iniciativas.
A urgência de o Brasil mudar vem da distância cultural a que estamos dos bons exemplos. Cabe reformar o ambiente econômico, tributos, privatizar ao máximo e investir na educação – mais no conteúdo do que na infraestrutura –, pois precisamos de um choque cultural nas universidades e redirecionar o Ensino Fundamental e o Médio para uma visão de contribuição produtiva para a sociedade via iniciativa individual. É preciso uma revisão da Constituição com o intuito de ver nosso país performar para seu povo ser protagonista global.