Após a aprovação do texto-base, ontem, na Comissão Especial da Câmara, aproxima-se a votação em plenário de uma das pautas mais importantes para o país nos últimos anos. A reforma da Previdência, que vai exigir um pouco de sacrifício de todos os trabalhadores, é basilar para a garantia da solvência do país no longo prazo, por colocar um freio no galopante déficit do sistema atual de aposentadorias. Não tem o condão de resolver os problemas do Brasil do dia para a noite, mas é o alicerce sobre o qual a economia brasileira deve começar a se reerguer, por renovar a confiança dos empresários e investidores e afastar o risco de volta da inflação e de juros altos.
Fica a esperança de que Estados e municípios ainda possam ser incluídos nas novas regras
E é exatamente por cortar benefícios e privilégios que, na reta final das negociações do Congresso, aumentaram as pressões para abrandar as futuras regras e desidratar a reforma. Se todos os pleitos fossem contemplados, especialmente os dos que têm mais mecanismos de fazer lobby, o projeto perderia grande parte de seu sentido. O norte do texto de combater regalias na comparação com os direitos da esmagadora maioria da população não pode ser perdido de vista. Ceder agora aqui e ali significaria passar uma péssima mensagem aos cidadãos e aos próprios parlamentares, sempre sensíveis aos apelos de suas bases e corporações. Desidratar mais o conteúdo e se afastar da economia esperada pode desmoralizar a defesa da proposta, aumentar os perigos no plenário e, com isso, fazer com que o país volte a correr o risco de mergulhar na instabilidade.
Para que todo o país ganhe nas próximas décadas, é o momento de cada um ceder um pouco. O chamamento à responsabilidade vale inclusive para as corporações que, de última hora, insistem na manutenção de vantagens e emparedam o Congresso. A imposição de um tratamento mais equânime deveria ser entendida inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro, que nos últimos dias, em vez de ser um guardião da proposta
da reforma da Previdência, tem atuado em nome de interesses localizados. É um erro porque, assim, também acaba legitimando pressões das mais diversas categorias, enquanto a maior parte dos trabalhadores do setor privado não conta com um sistema organizado de defesa de seus interesses no parlamento.
O próximo passo é a votação do texto pelos 513 deputados federais. Ainda haverá espaço para pressões e negociações. Fica a esperança de que a sensatez prepondere e possa se aperfeiçoar a proposta, com a inclusão de Estados e municípios nas novas regras da Previdência.