Por delegado Cleiton de Freitas, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (ASDEP/RS)
A morte é temida por todos. Pelos policiais também. Não pensem que por ter como premissa esta possibilidade, o temor diminua. Para prevenção deste fim, nos preparamos com técnicas, táticas, buscamos atualização constante, planejamos ações e operações. Reivindicamos e justificamos equipamentos de segurança individual, armamento e munição adequados à crescente demanda e exigência. Estamos numa guerra injusta, pois nós damos a cara e, por vezes, a vida. O mundo do crime está protegido na escuridão. Aí percebemos que o luto por cada um dos nossos é um luto pela posição que nossa instituição enfrenta. Nossas ações são usadas para propagandear governos. A polícia serve para marketing. É o único dado concreto que tem para mostrar que algo está sendo feito, mesmo que ao custo de vidas.
Escutamos que somos privilegiados por gente que está preocupado com a liberação de emendas parlamentares para fazer bonito nas suas regiões eleitorais, mas esquecendo que fazemos a segurança dos seus eleitores. Somos usados em eventos midiáticos, mas nossos coletes seguem vencidos. Assim, vamos assistindo nossos direitos serem atacados. Temos nossas garantias dizimadas por reformas ou projetos que interferem na vida familiar, financeira, no planejamento da velhice, se lá chegarmos. Agora, além de não sabermos se voltaremos para nossos lares, não sabemos quais contas poderemos honrar, que dia será debitado nosso salário, quando será possível sair da linha de fogo. É muita exigência para um profissional que vive diariamente o tênue limite entre vida e morte.
Comemoramos a nomeação de novos agentes. Chegam cheios de instruções atualizadas, teorias e práticas da melhor academia nacional de formação policial, mas encontram uma realidade dura. Como acolher quando não temos acolhimento estrutural?
O que salva a sociedade é que somos altivos, resilientes. Temos orgulho do nosso trabalho. Sabemos nosso valor. Não esmoreceremos mesmo sabendo que alguns tombarão e que junto cada um perde um pouco de si e a sociedade perde um aguerrido batalhador da paz social. Polícia para quem precisa, estaremos lá.