Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre
Algumas situações da vida são de tal modo dolorosas que qualquer ser humano de bom senso se sente perturbado.
Na última semana, dois brigadianos foram, no exercício de seus deveres, brutalmente assassinados em Porto Alegre. Sofreram morte violenta na observância coerente da própria missão. Essas mortes deixam um vazio no seio de duas famílias, no coração de homens e mulheres de boa vontade e entre os companheiros de farda. São abomináveis tais delitos e por isso devem ser condenados com todo vigor.
Mesmo que as cenas de violências no cotidiano tentem banalizar o valor da vida, a sociedade não pode ignorar semelhantes tragédias. O Estado não pode abandonar suas famílias. Ao mesmo tempo, não se podem ignorar as razões da brutalidade que rouba nossa dignidade, nossa honra e o futuro de tantos adolescentes e jovens, vítimas de um poder que vicia e mata. No episódio do assassinato dos PMs Rodrigo da Silva Seixas e Marcelo de Fraga Feijó, um criminoso, anônimo no noticiário, também perdeu a vida. É urgente pensar o que estamos fazendo para evitar que, no futuro, mais homens e mulheres sejam seduzidos pelo tráfico e pelo consumo de drogas, e pessoas de bem percam suas vidas no restabelecimento da ordem.
Quem cultiva a dimensão religiosa e se sente agraciado com o dom da fé, reza por aqueles que, diariamente, se veem confrontados pela violência que caracteriza o cotidiano da maioria da população. Ora também por aqueles que tramam violência, a fim de que se convertam, abandonem as armas e decididamente se disponham a cooperar para promover harmonia e paz no seio da sociedade.