Por Jocelaine Teixeira, juíza criminal de Porto Alegre
Sou avessa a qualquer forma de violência, venha de quem vier, dos pequenos conflitos, de crimes graves, do próprio Estado. Não me acostumo com a violência.
Como juíza criminal, determino a baixa de muitos processos em que um jovem acusado foi vítima de morte violenta. O faço com tristeza, com sentimento de que devemos construir uma sociedade diferente, mais acolhedora, menos ambiciosa, mais fraterna, menos excludente.
São muitos os casos de morte de soldados do tráfico, de meninos, de jovens. Morrem, em geral, em disputas entre grupos criminosos. Outros morrem em confrontos com policiais. Uma minoria morre vítima de excesso policial. Lamento essas mortes.
Penso na falta de expectativa da população de periferia permeada pelo crime. Penso nas mães que perdem os filhos, nas crianças que perdem os pais. Morrem também policiais nessa "guerra pobre", como adjetivou um policial militar. Sinto muito desconforto com a violência contra soldados do Estado e com uma população que, em geral, os invisibiliza como humanos, reduzindo-os a meros prestadores de serviços. São agentes públicos expostos a trabalho extenuante, a riscos, inclusive de vida e à não aceitação de sua atuação em comunidades fartas da presença do Estado, muito mais pela força, do que por outras políticas públicas.
Lamento a morte recente dos dois soldados da Brigada Militar. Penso que sonharam com uma carreira pública de relevo social. Penso em suas mães e em seus filhos. Sinto pelos mortos, por seus familiares. Sinto por nós. Sinto pela ausência de políticas para atacar as causas da violência que mata "soldados", jovens de periferia ou policiais militares. Não dissocio essa violência assassina de uma opção da sociedade e do Estado, desde há muito e de modo crescente, por combater a violência com mais violência, opção pela militarização da vida, pela apologia às armas. O Brasil está entre os países campeões em homicídios, que tem uma das polícias que mais morre e que mais mata. Desejo outra direção.