Por Alfredo Fedrizzi, jornalista e consultor
Ele nasceu em uma família que tinha tudo e onde todas as coisas estavam no seu lugar. Em vez de desfrutar e repetir isso pelo resto da vida, resolveu saciar sua curiosidade fazendo complexas viagens de aventura, quase sempre sozinho. Em uma delas, em cem dias retraçou a rota de Marco Polo, pelo Irã, Afeganistão, desceu o Nilo, pelo Sudão, até Alexandria. Há 30 anos, jogou o relógio fora, depois que um guia na África respondia sua pergunta “quanto tempo falta para chegar?” sempre com a mesma frase: “Meia hora!”. No meio do nada, o tempo não era importante.
Para aprender, procurava pessoas que viviam de maneira diferente. Um dia, sua esposa disse que ele tinha uma única ideia: de que era preciso desobstruir o caminho dos indivíduos para que procurassem suas próprias soluções e seu talento, na família, escola, empresa, na vida. Para que pudessem descobrir o que realmente queriam e liberar o que é constrangido por regras. “Não existe excesso de liberdade. Considerando o momento e a idade da pessoa, a liberdade é didática e vai apontando o próximo ciclo de aprendizado, ressalvando questões de segurança”, diz Semler.
Ele praticamente inventou a disrupção, implantou a jornada de trabalho flexível, a distribuição de resultados e não parou mais de inovar. Acha que o modelo empresarial hierárquico está falido. Em 1988, escreveu o livro Virando a Própria Mesa, um best-seller, que foi traduzido em 38 países, resultado da sua experiência ao recuperar a empresa que herdou da família, quando tinha 19 anos.
Criou as escolas Lumiar, nas quais os alunos iniciam as aulas conversando sobre um acontecimento do dia, decidem o que e como querem aprender. Agora, parte para provocar uma mudança radical no ensino público das periferias, para que possa competir com as escolas de bairros centrais.
Semler acredita que não há melhor negociador no mundo do que uma criança de dois anos. Diz, ainda, que é preciso consertar a escola desde o jardim de infância, que a experiência não é transmissível e que devemos educar os filhos com o máximo de omissão possível, para que aprendam com suas experiências.
Só manifesta sua opinião se tiver algo novo a acrescentar. Ou quando seu timing é diferente dos demais. Foi um dos únicos empresários a declarar que a sociedade estava equivocada ao votar em Bolsonaro, em artigo na Folha de S. Paulo, durante a campanha eleitoral.
Semler não se interessa pelo que já fez, mas pelo que poderá fazer. Está focado em desenhar a organização da sociedade, das empresas, das escolas, das instituições para os próximos anos, neste mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo em que vivemos. Uma pessoa admirável e inspiradora!