Acima da desconfiança pessoal entre as cúpulas dos três poderes, está a premência de resgate do país, que vislumbra um potencial agravamento da crise no horizonte.
A desaceleração da atividade e os mais de 13 milhões de desempregados esperam, enfim, uma pacificação nacional para que empresários voltem a investir, o consumo retome o crescimento com mais segurança e, assim, a roda da economia consiga readquirir tração. Mesmo que possa existir justificado ceticismo com o gesto, é necessário exaltar e apoiar o consenso em torno de um pacto sobre bases mínimas mirando dias melhores para o Brasil, com a aprovação das reformas tributária e da Previdência, a revisão do pacto federativo, a desburocratização da máquina pública e o aprimoramento de uma política nacional de segurança.
A deterioração das relações institucionais faz crescer o risco de o país voltar a mergulhar em uma recessão
Os presidentes da República, do Supremo Tribunal Federal (STF), do Senado e da Câmara parecem entender que, mantida a discórdia, com a deterioração das relações institucionais, cresce o risco de o país voltar a mergulhar em uma recessão. Estabilidade, portanto, é a base para se evitar esse cenário catastrófico. Espera-se que, sobretudo, a lição tenha sido absorvida por Jair Bolsonaro, líder de um governo que se especializou em criar e nutrir as próprias crises. É essencial que seja um movimento sincero, mostrando que ficaram para trás os dias mais truculentos do Planalto e o período de desarticulação, mais evidente no trato com a Câmara.
Mesmo que formalmente o mote das manifestações do último domingo tenha sido o apoio às reformas, especialmente a da Previdência, Congresso e STF também foram alvos de parte dos integrantes dos atos incentivados pelo bolsonarismo mais exaltado. Desta forma, mostram maturidade o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o da Suprema Corte, Dias Toffoli, ao estenderem a mão ao pacto – inicialmente, aliás, proposto pelo próprio ministro do Supremo. Para o STF, o comprometimento tem limite, uma vez que poderá vir a ser chamado para definir disputas jurídicas em torno de temas como a Previdência. Vale, entretanto, a sinalização de que também está interessado em serenar ânimos.
Conversar civilizadamente em busca de saídas para o país só não interessa a quem, por estreitos motivos políticos, à esquerda ou à direita, torce pelo caos. Cabe a todos os brasileiros acompanhar a implementação do pacto, para que seus princípios não evaporem em meio a novas disputas políticas. A assinatura do documento que marca o compromisso dos poderes com as iniciativas é prevista para junho. Mas, mais do que a formalidade da firma de cada um, o primordial é o real engajamento em sua concretização.