Merece ampla discussão a possibilidade de parcerias público-privadas e de concessões de instituições de ensino estaduais, alternativas abordadas pela reportagem "Governo do RS estuda PPP para escolas", publicada na edição do final de semana de Zero Hora. Pela relevância do tema, não é aceitável tentar interditar o debate por preconceito ideológico ou por serem opções ainda consideradas tabus no Brasil. O inegável é que, hoje, o Rio Grande do Sul deixa muito a desejar na tarefa de transmitir o conhecimento para as futuras gerações. Alunos, pais, professores e poder público dão claros sinais de insatisfação com a precariedade do quadro atual. Corroborando essa realidade, os índices de reprovação dos alunos gaúchos do Ensino Médio na rede estadual são os mais altos do país.
A debilidade das finanças do Estado e a incapacidade de superar modelos antigos e ineficientes fazem com que ainda estejamos presos a questões básicas, como a estrutura física das escolas e o salário dos professores. É indiscutível que são pontos importantes e, portanto, exigem solução. Mas, apesar disso, é essencial despertar para exames mais profundos. Questões como currículo, metodologia de ensino e preparação de professores estão ofuscadas pela inércia e pela radicalização estéril de posições.
Está em curso transformação que exigirá um capital humano mais bem formado, em busca de maior produtividade
Na mesa do governador Eduardo Leite, está uma opção em que são repassadas à iniciativa privada responsabilidades que são meio, e não fim, como a gestão das obras, da manutenção e dos serviços de limpeza e segurança nas instituições de ensino, tarefas que podem ser executadas de forma mais eficiente do que se amarradas à burocracia estatal. Menos onerosas para o Estado e para o contribuinte, por consequência. E a função pedagógica permanece sob orientação pública. No início da semana passada, o governador recebeu o fundador e presidente da CSUSA, criador do modelo alternativo das charter schools nos Estados Unidos, onde funcionam desde 1996. Nessa formatação, uma empresa ou sociedade sem fins lucrativos constrói e estrutura a escola, define metodologia de ensino e contrata professores. Mas o Estado segue como financiador, define regras gerais de funcionamento e fiscaliza a qualidade da educação.
A histórica polarização do Rio Grande do Sul têm levado, nas últimas décadas, a uma estagnação do desenvolvimento. O bom debate foi substituído pela altercação. Caminhamos para uma mudança demográfica que, em um futuro nem tão distante, fará do Brasil um país com mais idosos e menos jovens. Entre os gaúchos, é um fenômeno mais acelerado. Essa transformação exigirá um capital humano mais bem formado, em busca de maior produtividade. É a chave para a inserção e para o crescimento econômico, aliada às profundas transformações sociais alavancadas pelo desenvolvimento da tecnologia. É um contexto que exigirá uma profunda guinada na educação. Se o desafio à frente parece ser imenso, é mais do que válido evoluir para um novo modelo de educação e, se necessário, recorrer a ajustes durante o processo. Não se prega uma substituição abrupta, mas experimentar uma variação que pode trazer algum alívio para os compromissos financeiros do poder público e, ao mesmo tempo, oferecer à sociedade maior qualidade do ensino.