É uma injustiça com a população e com a esmagadora maioria do funcionalismo o Estado ter de reajustar em 16,38% os vencimentos de servidores do Executivo com contracheques acima de R$ 30,5 mil e que, assim, passam a ganhar novo teto. Beneficiadas por decisões judiciais, categorias já regiamente remuneradas tornam-se ainda mais privilegiadas em um país com 13,4 milhões de desempregados e outros 4,8 milhões de desalentados, que desistiram de procurar trabalho.
Age certo o Estado em seguir lutando nos tribunais para barrar mais esse absurdo
Mesmo que imaginássemos o Rio Grande do Sul como um nação rica, de finanças em dia e com plena capacidade de investimento, o novo limite seria suficiente para causar espanto. Mas a realidade é que os gaúchos sofrem com os cofres raspados do governo, que nem sequer consegue prover à população atendimento razoável em áreas essenciais, como saúde, educação e segurança. Mesmo sem dinheiro, o Rio Grande do Sul se vê obrigado a alçar a um nível ainda mais alto de remuneração quem já está no topo da pirâmide, aumentando a distância entre essa casta e os que recebem vencimentos parcelados há mais de quatro anos e, em regra, sequer contaram com a reposição da inflação. É algo que mostra, no mínimo, insensibilidade de seus defensores, por mais que filigranas jurídicas sustentem o aumento. No fim, há um aprofundamento das injustiças.
Age certo o Estado em seguir lutando nos tribunais para barrar mais esse absurdo. É sempre bom lembrar: são recursos que saem do bolso dos contribuintes, inclusive dos mais carentes, forçados a arcar com elevada carga tributária até para adquirir o básico da alimentação e que, por outro lado, não encontram digna contrapartida nos serviços prestados pelo poder público.
Estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgado na segunda-feira, escancarou o doloroso panorama do país. A desigualdade do mercado de trabalho no Brasil cresceu pelo 17º trimestre consecutivo. Desde o início da crise, período demarcado a partir de 2015, a renda real dos 10% mais ricos subiu 3,3%, enquanto a dos 40% mais pobres retrocedeu 20%.
As ruas e as urnas, nos últimos anos, deram um recado claro: os brasileiros cansaram de arcar com as benesses de um estrato de servidores que parecem viver alienados em uma torre de marfim, alheios à dura luta cotidiana do cidadão comum.