Por Pedro Dutra Fonseca, professor titular do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS
Novos rebaixamentos da previsão de crescimento da economia brasileira para 2019, por diferentes instituições, apontam para a tendência de fechar o ano em menos de 1%. Contam para isso a velocidade da desaceleração e a ausência de medidas capazes de, a curto prazo, mostrar resultado para revertê-la. É preciso ponderar que a recessão já dura vários anos, portanto, tem causas mais profundas, que vão além da flutuação normal dos “ciclos de negócios”. Sugere, ademais, uma crise de confiança entre consumidores e empresários, que, em situações como essa, mostram aversão ao risco, não se dispondo ao endividamento e, tampouco, a novos empreendimentos.
Quadros graves e duradouros de baixo crescimento geralmente têm forte componente inercial, ou seja, não se revertem de forma espontânea nem facilmente. Acalorados debates entre os economistas durante a Grande Depressão da década de 1930 recomendam que é preciso atuar com um olho no longo prazo (para solucionar entraves estruturais) e o outro na conjuntura, por meio de medidas voltadas a alcançar resultados mais rápidos ou, pelo menos, a amenizar o baixo desempenho da produção e o desemprego.
As autoridades econômicas têm insistido que a reforma da Previdência reverterá o quadro. A estratégia pode estar correta como forma de ganhar apoio ao projeto, já que é sua prioridade. Mas, se é claro que a aprovação pode recuperar a capacidade de investimento dos governos federal, estaduais e municipais, é preciso também ter consciência de que ela não trará resultados imediatos e nada garante que seja suficiente, por si só, para reverter a estagnação persistente. Poderão 13 milhões de desempregados e suas famílias esperar até lá? Também o governo anterior prometia que tanto a aprovação do teto constitucional ao endividamento público como a flexibilização das leis trabalhistas trariam consigo o crescimento. Não aconteceu, embora quem o alertasse, na ocasião, fosse execrado.
O engano na formulação de políticas é o mesmo: (a) desconsiderar que medidas de política econômica têm prazos diferentes para apresentar resultados; e (b) supor que, sem medidas de impacto de curto prazo, o quadro será modificado. O problema é que o custo do equívoco é alto.