No Rio Grande do Sul, 100 dias foram suficientes para o governador Eduardo Leite firmar-se como um exemplo na difícil arte do diálogo, num ambiente sempre radicalizado como costuma ser o cotidiano dos gaúchos. Diferentemente de Jair Bolsonaro, o grande mérito do governador foi o de ter evitado confrontos abertos. Sem abdicar da conversa e da negociação, manteve-se firme em seu projeto de modernizar o Estado, a começar pela dispensa de plebiscito para privatizar três estatais.
O grande mérito do governador foi o de ter evitado confrontos abertos
Favorece o governo o fato de seu antecessor ter se mostrado responsável no campo fiscal, mesmo com as enormes dificuldades do setor público. Além disso, coube à administração anterior a implementação de uma política de segurança que, agora, começa a reverter os dramáticos índices de criminalidade, motivo de apreensão constante entre os gaúchos.
O governador montou um secretariado que não se configura uma constelação uniforme. Ainda assim, o primeiro escalão estadual demonstra afinidade com a noção geral de que o Estado precisa enfrentar seus dilemas. Sem mudanças radicais, o poder público gaúcho corre o risco de ficar impedido, em curto espaço de tempo, de prestar serviços essenciais para a população, hoje já caracterizados pela ineficiência, de maneira geral.
Nesse período inicial, não houve tempo para mudanças no quadro de penúria das contas públicas, que seguem em deterioração, ameaçando o cronograma da campanha para a regularização da folha salarial. No entanto, o novo governo reforçou as negociações para o acordo com a União, adotou ações concretas para reduzir custos e para compensar a incapacidade de investimento do poder público. Uma delas é o programa de concessões ao setor privado em áreas como a de rodovias.
Agora, será preciso harmonizar a já identificada capacidade de negociação do chefe do Executivo gaúcho com a urgência de aprofundar as reformas do Estado. Essa necessidade deverá desagradar a uma série de setores que conquistaram benesses nas últimas décadas e hoje consomem a maior parte das receitas estaduais. Será um momento decisivo para o Estado e para definir até onde vai a capacidade de negociação e diálogo de seu governador.