A despeito de uma equipe econômica de primeira linha, sob o comando de Paulo Guedes, e de estrelas no primeiro escalão como Sergio Moro, o governo Jair Bolsonaro ainda não encontrou um norte definitivo. O novo governo deu passos importante ao apresentar um bem arquitetado projeto de reforma da Previdência e o esperado pacote contra o crime e a corrupção. Ainda assim, segue perdendo-se em um labirinto de polêmicas inúteis, alimentadas por seguidores da ala mais ideológica da administração. Neste clima, é tarefa urgente achar a estratégia para articular com o Congresso a aprovação das mudanças na Previdência, sem as quais os compromissos de campanha e o próprio governo correm o risco de se inviabilizar.
O país precisa recuperar o tempo perdido diante de suas reais prioridades, que são muitas
Cem dias é pouco tempo para um governo pôr em prática um programa aprovado nas urnas pela maior fatia do eleitorado. O problema é que, nesse período de lua de mel, o presidente da República deixou correr o clima de confronto da campanha e evita dialogar com contrários. O presidente e seu círculo íntimo seguem pregando para os já convertidos e afastam-se ainda mais do discurso de posse de que o eleito governaria para todos. Com a arma digital na campanha, Bolsonaro fez uma ascensão meteórica. Com a arma digital no governo, torna a si próprio um obstáculo ao sucesso de sua gestão, na qual se sobressai a moderação dos militares em cargos da administração. Ao parecer que é o presidente apenas de seus eleitores, Bolsonaro seguirá queimando capital político, como já se constata pela perda de popularidade apontada por pesquisas de opinião.
O presidente da República não é obrigado a se subjugar às pressões de sua base virtual, mais preocupada em criar e alimentar inimigos também virtuais. No Brasil real, o chefe do Executivo vai satisfazer seus eleitores e derrotar as teses adversárias se expandir seus horizontes políticos e, assim, assegurar uma sólida maioria para aprovar o quanto antes a bateria de reformas pela qual o país tanto anseia e necessita para voltar a crescer e gerar empregos.
Nesta linha, alguns avanços já podem ser registrados após uma série de tropeços. Jair Bolsonaro vem demonstrando maior interesse em conversar com líderes partidários e consentiu em atender a imprensa, mostrando uma saudável disposição de interagir para além de um grupo de seguidores radicalizados. O país precisa recuperar o tempo perdido diante de suas reais prioridades, que são muitas. Mas, para acertar o caminho, o presidente deve aposentar de vez a espada da beligerância digital e reunificar-se com o Brasil de carne e osso.