Por Luís Lamb, professor, secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS
Nossa cidade está de aniversário. E neste momento histórico, queremos celebrar sua tradição inovadora. Por décadas as gerações do milênio passado tiveram fascinação pelo ano 2000, que traria a modernidade do Século 21 – embora o século tenha se iniciado somente em 2001. Pois já passamos da maioridade do novo século, o que nos permite conjeturar sobre o futuro a partir dos indícios dos seus primeiros 18 anos. Nesse período, a geração X presenciou a transformação social e cultural provocada pela consolidação de tecnologias como a web (desde os anos 1990), o uso das redes sociais e o acesso a tudo e todos na palma da mão, com os smartphones.
Embora testemunhemos a era da Inteligência Artificial, muito está por vir. Mais da metade da população hoje vive em cidades. Aliás, as cidades se constituíram no locus do conhecimento, base da economia desde a revolução científica de Francis Bacon, célebre por sua associação do saber técnico ao poder das nações: "Conhecimento é poder".
As projeções indicam que em 2050, em torno de 70% da população mundial estará nas cidades. A concentração do conhecimento humano também. Porto Alegre será um desses espaços, enfrentará desafios e mudanças consequentes das inovações tecnológicas. Grande parte da população trabalhará em atividades que ainda não existem.
Esses profissionais serão responsáveis por construir soluções para a capital. Terão de enfrentar o desafio demográfico e definir as vocações de Porto Alegre para uma nova era. A era de volumes de dados tão gigantescos que tornarão o conceito de big data que conhecemos ultrapassado. Dados serão públicos, não estatais, produzidos pelos cidadãos, na cidade, por toda população.
A disponibilização desses dados permitirá soluções inimaginavelmente ágeis das questões fundamentais. As exigências e a conscientização da humanidade sobre a utilização da água e da energia (incluindo seu uso público, como na iluminação) a partir das informações e do conhecimento propiciado pelo uso da internet das coisas, viabilizará o consumo equilibrado desses recursos. Hoje já há soluções de transporte público com maior taxa de satisfação e menor custo, construídos sobre modelos de compartilhamento de veículos, de pequeno, médio e grande capacidade. Ademais, a interação com o poder público será digital, desmaterializada, sem papel.
Nas atividades-fim, associadas ao Estado, a utilização de dados abertos, produzidos pelo cidadão, propiciará a definição de políticas de saúde pública, segurança e educação baseadas em evidências, com resultados auditáveis. Isso otimizará o uso dos recursos públicos, permitindo o conhecimento preciso das necessidades de cada região, viabilizando a avaliação efetiva dos serviços, valorizando a qualidade de vida.
Essas hipóteses parecem otimistas,mas sua ocorrência tornaria a vida na nossa cidade e Estado mais próximas da realidade que se observa em todo planeta. Certamente fazer previsões é difícil, especialmente sobre o futuro, como atribuído ao Nobel de Física Niels Bohr, mas temos referências mundiais e acesso ao conhecimento produzido pela humanidade, que nos obrigam a desenhar futuros melhores para as próximas gerações, que carregarão o legado do que construirmos hoje.