Por Letícia Piccolotto Ferreira, especialista em Gestão Pública pela Harvard Kennedy School e fundadora do BrazilLAB, ONG que conecta startups e governos para estimular a inovação no setor público
Excesso de burocracia, pouca flexibilidade e processos demorados são características ainda muito presentes no setor público brasileiro. É raro pensar em inovação quando se fala em governo, mas a discussão é extremamente necessária. Afinal, é inovando que o setor tem a chance de mudar a qualidade dos serviços prestados à sociedade.
Não que não haja pequenos experimentos acontecendo com o objetivo de promover um governo mais aberto e mais digital. Mas para promover a inovação em larga escala é preciso estabelecer mecanismos para a promoção de um arcabouço jurídico mais seguro e favorável.
No mesmo sentido, governos vêm mostrando que estão dispostos a inovar. O Pitch Gov.SP (Estado de São Paulo), o Startup São José (São José dos Campos) e o Seed (Minas Gerais) são alguns exemplos de programas que conectam startups com o serviço público e incentivam o desenvolvimento de pesquisa e tecnologia em prol da sociedade.
Também com o propósito de fomentar a pauta GovTech – tecnologias a favor de soluções públicas – fundamos o BrazilLAB há dois anos. Nesse período, já aceleramos 26 startups que possuem soluções em diferentes áreas como educação, saúde, lixo, entre outras. Um exemplo que já está gerando resultados é o Cuco Health, app que funciona como uma enfermeira digital e que atualmente está implementado na rede de saúde de Juiz de Fora –MG. O aplicativo engaja pacientes a seguir à risca tratamentos para doenças crônicas. A solução ajuda a reduzir as filas em 63 UBSs da cidade, já que o agravamento de problemas e a necessidade de atendimento urgente diminuem.
O diálogo entre Poderes Executivo e Legislativo, órgãos de controle, academia, ONGs e empreendedores é fundamental para que surjam legislações e ambientes capazes de proporcionar segurança e incentivo para a inovação com escala. É essa atuação em rede que alavancará a pauta GovTech no Brasil.
Ganha a população, que passa a ter maior acesso a serviços de qualidade. Ganham os governos, vítimas de orçamentos estrangulados e poucos recursos, que encontram soluções para reduzir custos e ganhar eficiência. E a sociedade como um todo, que pode encontrar espaço para participar da melhoria de políticas públicas.