Antes mesmo da decisão dos jurados em Três Passos sobre o caso Bernardo Uglione Boldrini, o garoto assassinado há quase cinco anos em Frederico Westphalen, a sociedade gaúcha já tem razões consistentes para confiar na efetividade do Judiciário neste caso. O assassinato, que comoveu o país inteiro, só está sendo julgado cinco anos depois em decorrência principalmente dos prazos exigidos para interposição de recursos. A particularidade de o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ter possibilitado o acompanhamento em tempo real faz com que também a sociedade possa refletir sobre os fatos e versões, chegando às suas próprias conclusões e auferindo lições sobre o tratamento dispensado às crianças.
A transmissão ao vivo contribui para que a sociedade possa compreender melhor e valorizar esse processo
Na decisão que remeteu o caso a júri popular, o magistrado viu prova da materialidade e indícios suficientes de autoria em relação aos quatro réus, que serão declarados inocentes ou culpados por atos como o de homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica, conforme a denúncia do Ministério Público. Crimes dolosos contra a vida – quando ocorrem de forma intencional, como no caso Bernardo – são julgados não por um juiz, mas pelo Tribunal do Júri. Os sete jurados, portanto, decidirão, por maioria simples, se os réus são ou não culpados. E ainda caberá recurso da decisão.
A indignação de âmbito nacional, amplificada particularmente pelas redes sociais, demonstra o quanto o caso do menino de 11 anos se presta a diferentes leituras sobre o que ocorre quando a violência em âmbito doméstico transborda para além dos limites familiares. No caso, a revolta popular é motivada pela constatação de até onde pode ir a maldade, numa época em que rancores e ódios sempre parecem estar à flor da pele ou se manifestando sob a forma de gestos e atos de violência.
Num ambiente pautado pela emoção, inevitável diante da exposição do martírio da pequena vítima de Três Passos, a atuação do Judiciário ganha ainda mais destaque. Independentemente da decisão dos jurados, o que fica evidente, quase ao final do julgamento, é a Justiça gaúcha num de seus mais desafiadores momentos. A transmissão ao vivo contribui para que a sociedade possa compreender melhor e valorizar esse processo.