É positivo que o presidente da República, Jair Bolsonaro, em encontro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tenha se comprometido a se engajar imediata e pessoalmente na aprovação da reforma previdenciária no Congresso. Para isso, porém, o chefe do Executivo precisa dar mostras claras e sinceras de sua disposição. Pelo que se pode deduzir de seu intenso ativismo nas redes sociais, a reforma previdenciária não chega a se constituir em prioridade. O presidente da República trata com a mesma relevância a discutível eliminação das lombadas eletrônicas, os ataques de sempre a jornalistas e a própria reforma, que se constitui de fato numa questão essencial para o país, independentemente de cor partidária.
A sociedade e o Congresso, eleito para representá-la, precisam ser convencidos da importância das alterações
A essa altura, está evidente que a questão da Previdência não vai ser sustentada pelas redes, que se prestam mais para ataques e muito pouco para defesas, sobretudo de temas polêmicos. A ênfase dos debates ficará concentrada em duas frentes _ a política e a técnica. No âmbito político, merece aplauso a postura sensata e responsável do presidente da Câmara, que, no vácuo de direcionamento estratégico e de foco do presidente, vem assumindo funções de primeiro-ministro. No plano técnico, uma das vozes mais firmes tem sido a do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes. Diante do otimismo com a aprovação das mudanças manifestado em entrevista publicada no fim de semana no jornal O Estado de S. Paulo, o ministro conseguiu reanimar os mercados.
Na mesma entrevista, o ministro da Economia confirmou a intenção de encaminhar de imediato uma proposta de flexibilização do orçamento, hoje extremamente engessado com despesas obrigatórias, o que é positivo, por conferir maior maleabilidade na definição de prioridades. A mudança se justifica acima de tudo diante das carências financeiras enfrentadas hoje pelo setor público nas três instâncias da federação. Ainda assim, é preciso cuidar para que o tema não acabe desviando o debate da área da seguridade, nem venha a provocar divisões entre parlamentares.
O Planalto precisa concentrar as atenções no que é prioritário para o país. E, nesse momento, nada se mostra mais urgente do que as mudanças na área previdenciária. A sociedade e o Congresso, eleito para representá-la, precisam ser convencidos da importância das alterações com argumentos objetivos e com o máximo de transparência.