A maior festa popular brasileira merece ser marcada apenas pela alegria e pela criatividade. Para tanto, não basta torcer pela redução das notícias sobre violência e sobre acidentes nas estradas. Mais do que uma questão de fiscalização, a segurança no feriado é uma responsabilidade de cada um dos brasileiros. Nossas estradas mal sinalizadas e com engenharia deficiente são um desafio extra no momento em que milhões de pessoas iniciam um merecido período de celebração ou de descanso. Se a combinação de álcool e direção for reprimida e evitada, certamente teremos manchetes mais leves e construtivas na Quarta-Feira de Cinzas.
Vale o mesmo para a venda de bebidas alcoólicas para menores de idade e para atitudes que possam configurar assédio contra qualquer indivíduo. Além de ilegais, tais práticas são incompatíveis com a expectativa de elevação ética revelado pelas urnas nas eleições passadas. O clamor por mudanças não pode estar circunscrito à classe política, mas deve ser inspiração para o cotidiano de todos nós.
O Carnaval não é um evento exclusivo de uma minoria social ou étnica, porque se confunde com a própria definição da identidade brasileira. Por isso, merece ser preservado e respeitado, assim como é feito com outras datas do calendário de festas e eventos nacionais. A redução drástica do investimento público nos desfiles e nas escolas de samba, em um contexto de cofres raspados, é um obstáculo extra, mas nem por isso intransponível.
Também é fundamental que o direito à diversão de muitos não atropele as normas básicas de conduta em espaços urbanos compartilhados. O Carnaval de rua, tradição que se renovou nos últimos anos em várias cidades gaúchas, é um teste para a civilidade de todos os envolvidos. Há necessidade de regras e de respeito aos horários de silêncio em regiões densamente habitadas. Cabe às autoridades uma presença ostensiva em regiões de grande concentração, dando segurança à maioria que deseja se divertir em paz. Tolerância e empatia são palavras-chave nesse contexto.
Até quarta-feira, quase tudo para. Reforma da Previdência, privatizações, projetos polêmicos. Vale também o reconhecimento aos que estarão trabalhando: policiais, salva-vidas, médicos, garçons, garis, jornalistas, motoristas e todos os profissionais necessários em uma sociedade estruturada. Neste Carnaval, devemos todos empenhar esforços para que, na quarta-feira, o Brasil acorde com apenas boas lembranças da festa e com ânimo renovado para encarar um ano de grandes desafios.