Se o novo ministro da Economia, Paulo Guedes, colocar em prática pelo menos metade do que apregoou no discurso de posse, o Brasil terá dado o maior salto modernizador da sua história recente. Com longa carreira no setor privado, o economista foi certeiro no diagnóstico dos males que travam o desenvolvimento do país, entre os quais definiu como principal o descontrole nos gastos públicos.
De fato, o cidadão brasileiro vive sufocado pelo excesso de impostos, sem que receba a contrapartida em serviços públicos e infraestrutura. Ao contrário. Hoje, o Estado praticamente vive para si mesmo, em um círculo vicioso que exige cada vez mais recursos para manter exércitos de órgãos públicos e servidores com salários acima da média e aposentadorias integrais. O estilo direto e franco de Guedes deve ter chocado e assustado alguns ouvidos, sobretudo aqueles que vivem à sombra de privilégios ou estão habituados às mesuras dos salões do Congresso. Não se sabe ainda quanto esse estilo pode atrapalhar as delicadas negociações para aprovar as reformas, mas pelo menos o novo ministro não pode ser acusado de varrer os problemas para debaixo do tapete.
A franqueza o levou a cometer, porém, pelo menos um erro flagrante: admitir que há plano alternativo para substituir a eventual rejeição de uma crucial reforma da Previdência. A mera citação da hipótese pode dar certo conforto àqueles que não se mostram dispostos a enfrentar a realidade do déficit público e levar, eventualmente, a perda de alguns votos no Congresso. A desvinculação orçamentária, assim como a reforma, são pássaros voando e nada garante que uma ou outra estarão na mão ao longo deste governo se não houver um cuidadoso processo de negociação e, sobretudo, de convencimento da opinião pública.
De qualquer forma, avizinha-se uma guinada destinada a liberar as forças produtivas do país. Os alvos do novo ministro da Economia foram bem delineados: os subsídios que escondem ineficiência privada, o emaranhado tributário, a legislação trabalhista que mantêm à margem da formalidade 40 milhões de brasileiros, a concentração de recursos em Brasília e, em especial, o mastodôntico organismo estatal que devora recursos e engole a esperança de um governo voltado para o país real e carente de educação, saúde e segurança.
Apesar do estilo pessoalista, Guedes se cercou de cérebros de primeira grandeza, que trazem novo oxigênio para a gestão da economia do Brasil. Nesse sentido, a visão modernizante contrasta flagrantemente com outras áreas do governo, em particular a das Relações Exteriores. Se o novo chanceler, Ernesto Araújo, com sua visão contrária ao multilateralismo e outros inimigos ocultos, não por a pique acordos cruciais para o país, o Brasil terá uma rara janela de avançar muitas casas no tabuleiro do desenvolvimento.