Nos próximos quatro anos, Eduardo Leite terá uma única missão: olhar para a frente. Caberá ao governador eleito deixar para trás disputas partidárias, embates inócuos e ranços ideológicos, velhas práticas que marcaram a vida política do Estado nas últimas décadas.
Em um momento em que é tão questionada a capacidade dos governantes de dar respostas adequadas às demandas da população, nunca a disposição para o diálogo foi tão importante. Em uma terra marcada pelas divergências, buscar a convergência será fundamental.
Dois passos importantes já foram dados pelo governador eleito. Primeiro, a aproximação com os partidos de oposição na Assembleia Legislativa. Embora tenham olhares diferentes sobre a crise instalada no Rio Grande do Sul, todos os deputados, independentemente da sigla, têm o dever de pensar no bem do Estado. O reconhecimento disso e a disposição para ouvir o outro são condições necessárias para um ambiente de negociação saudável entre projetos diferentes, sem birras ideológicas e disputas pessoais.
O segundo passo foi a maneira como se conduziu a transição de governo ao longo dos últimos dois meses. Leite e o governador José Ivo Sartori demonstraram grande maturidade política.
As desavenças que marcaram a disputa eleitoral, especialmente no segundo turno, logo deram espaço para a troca de bastão republicana e em sintonia com os valores democráticos.
Dado o tamanho da crise e as dificuldades impostas para adesão ao regime de recuperação fiscal sugerido pelo governo federal, o novo ocupante do Piratini não poderá esperar muito. Terá de, acima de tudo, apresentar um plano realista aos gaúchos, capaz de livrar o Rio Grande de um déficit bilionário, que mantém a máquina pública lenta e ineficaz. A escolha de um secretário da Fazenda gabaritado, com largo conhecimento de finanças estaduais, sem dúvida, é um sinal positivo.
O governador eleito, entretanto, não deve se limitar a administrar um caixa quebrado. Os desafios do Estado vão muito além do pagamento em dia dos salários dos servidores e da quitação das parcelas vencidas da dívida com a União. A população gaúcha anseia, sobretudo, por serviços públicos de qualidade. Educação, saúde e segurança, temas prejudicados nos últimos anos pela discussão em torno da crise nas finanças, são áreas que precisam estar no horizonte de qualquer gestor público.
Embora tenha havido avanços nos últimos governos, especialmente na área de licenciamento ambiental, ainda há espaço para redução da cultura burocrática que tanto atrasa o desenvolvimento econômico e social. Além de cara e sufocante para o empreendedorismo, uma série de procedimentos acessórios desnobrece os próprios servidores ao impedir que eles sejam mais eficientes.
A crise da qual o Rio Grande do Sul está custando a se desvencilhar não permite espaço para mais postergações. Caberá ao governador eleito mostrar que existem, sim, soluções. E que caminharemos em direção a elas.