É um sinal positivo o fato de a palavra "convergência" ter aparecido pelo menos cinco vezes no discurso de posse de Eduardo Leite na Assembleia Legislativa. No primeiro pronunciamento oficial, o novo governador do Rio Grande do Sul defendeu o rompimento definitivo com a "polarização inútil" que tanto tem marcado a vida política do Estado nas últimas décadas e impedido medidas fundamentais de reformas profundas.
Mais do que manobras contábeis, será necessário, sobretudo, uma nova equação política para enfrentar a crise instalada. A disposição para o diálogo, já demonstrada nos meses posteriores à eleição, com a formação de uma base de governo sólida, uma transição sem atritos com o antecessor e a aproximação com os partidos de oposição, é o primeiro passo. Agora, porém, será inevitável contrariar interesses – o que, combinando com o estilo do governador, não precisa ser feito de forma agressiva.
O balanço contábil das dívidas do Estado mostra que o quadro fiscal é dramático. O déficit de R$ 4 bilhões previsto para 2019, o débito de quase R$ 30 bilhões com precatórios atrasados e saques dos depósitos judiciais ainda não cobertos, além de outros R$ 70 bilhões em financiamentos devidos à União e a bancos, são apenas algumas das consequências de décadas de má administração do bem público. Com uma das piores situações financeiras do país, o Rio Grande do Sul vive hoje em estado de penúria e já acumula duas folhas de pagamento em atraso, situação agravada pela ameaça de cobrança da dívida, suspensa provisoriamente por decisão judicial.
Com tal cenário, é preciso agir depressa. O choque emergencial nas contas públicas, com a publicação de decretos de contenção de gastos, envolvendo corte no custeio e nas despesas com pessoal é, sem dúvida, um passo importante. Mas é importante que o governador recém-empossado não se limite a administrar um caixa quebrado. Por isso, é essencial o pacote de reformas estruturantes prometido para os cem primeiros dias de governo.
Caberá ao novo ocupante do Piratini manter, nesse período, o apoio e a compreensão do cidadão comum, para não correr o risco de isolamento no discurso de austeridade, como já ocorreu com seus antecessores. O inadiável ajuste fiscal somente será possível com engajamento e compartilhamento de todos – poderes, funcionalismo, instituições, empresas e pessoas.
Essa tarefa coletiva é trabalhosa e, em muitas dimensões, dolorida. Mas, ao mesmo tempo, é inadiável. Como bem pontuou Eduardo Leite durante seu pronunciamento inaugural, o Rio Grande do Sul tem motivos para se orgulhar de sua história, mas não pode mais viver no passado.